OS DISCOS DA VIDA: LAUTMUSIK

Os gaúchos da Lautmusik conseguiram um grande disco logo na sua estreia. “Lost In The Tropics” é o terceiro trabalho do quinteto, mas o primeiro disco cheio. De cara, arrematou um segundo lugar entre os melhores discos do ano aqui no Floga-se (entrando também em outras boas listas por aí).

Numa conversa com a vocalista Alessandra Lehmen, há poucos dias, ela me disse que o rol de referências pra “música alta” do Lautmusik tem B-52’s, Joy Division, The Cure, Cocteau Twins, Suzanne Vega, New Order, Chemical Brothers, Ladytron, Cramps, X-Mal Deustchland e, claro, Siouxsie And The Banshees, entre outros. Pode estar aí, na composição precisa de todo esse cardápio, o acerto e o equilíbrio do disco, que acabou encantando de cara.

Isso dá uma cara ao grupo? Pode ser que o ouvinte não perceba essa lista de referências nas músicas da banda. Pode ser. Pra não ficar confusa a história, o quinteto participou da última edição de “Os Discos da Vida” em 2011: aqui os integrantes expõem aqueles álbuns que influenciaram seu modo de tocar ou que ajudaram no estalo, no momento da decisão de querer ser músico – culminando em “Lost In The Tropics”.

Aí, a coisa fica clara (repare nos textos deliciosos e esclarecedores de cada um deles). Não foi nada forçado. Simplesmente aconteceu uma conjuminância de talentos e acasos.

Ou como disse o baterista Rodrigo Prati, “a história da vida aconteceu, e esses álbuns simplesmente estavam lá”. Mas o fato de “estarem lá” fez com que a Lautmusik esteja aqui hoje, modificando a vida de outras pessoas. De preferência, tocando bem alto.

Foto: Anderson Astor

ALESSANDRA LEHMEN (vocal)

“Sou meio opiniática e provavelmente a mais prolixa da banda, mas quando se tratou de eleger cinco discos da vida me percebi estranhamente parcimoniosa com as palavras, como se respeitosa por ‘pisar em solo sagrado’. Decidi não falar nesses discos sob uma perspectiva musical – quanto a isso, me limito a dizer que são todos de bandas que considero favoritas e que influenciam diretamente o que faço na Laut – e sim como memórias pessoais, em ordem mais ou menos cronológica”.

Joy Division – “Unknown Pleasures” (1979)
Passei a adolescência numa cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul numa época – os anos 80 – em que o acesso à música era bem mais difícil; dependíamos de rádios e do que as lojas de discos locais vendiam, e também de um consideravelmente intenso trabalho de pesquisa em revistas e em qualquer publicação de música em que conseguíssemos pôr as mãos. Mesmo com esses percalços, acho que tive sorte: primeiro, porque tínhamos a chance de determinar sozinhos o que era e o que não era bom – não consumíamos música tão reativamente quanto hoje. Segundo, porque muita gente na cidade trabalhava em multinacionais: com isso, os pais de vários amigos viajavam seguidamente pro exterior e nos abasteciam de discos, que eram rapidamente replicados em fitas cassete pra todo o grupo. Disseminávamos nossos achados discotecando nas festinhas locais: de Devo a Mighty Lemon Drops, de Sonic Youth a Sugarcubes. E também dançávamos Joy Division – vejam bem, eu disse dançávamos!

Ouça “New Dawn Fades”:

Black Sabbath – “Paranoid” (1970)
Sou provavelmente a mais “metaleira” da banda e por isso acho que devo, aqui, um tributo a essa influência. Lembro nitidamente do dia em que comprei o “Paranoid” – olho agora o disco e uma anotação na parte interna da capa diz que foi em março de 87. Também lembro de como comprei: economizava o dinheiro da merenda e gastava tudo em vinis. Conheci o Sabbath bem antes disso, mas foi ouvindo sistematicamente esse disco que notei a genialidade da combinação de elementos aparentemente simples que torna o Sabbath único e atemporal. Quando ouvia Sabbath meio que me sentia a dona do mundo (master of reality?) e esse pra mim é um dos atributos mais importantes da música: os sentimentos e sensações que ela te desperta. Acho que a música pode mudar vidas.

Ouça “War Pigs”:

Cocteau Twins – “Treasure” (1984)
Cursei o 2º grau no fim da década de 80, em uma cidade vizinha, e, pra isso, tinha de pegar o ônibus às 6:30h – o que era meio massacrante pra alguém que até hoje detesta acordar cedo, em especial naquelas manhãs gélidas do inverno gaúcho. Pra amenizar, criei um ritual próprio que envolvia acordar quinze minutos mais cedo (isto é, às 5:15h) e me fechar na minha salinha de música (que tinha meu piano, meu aparelho de som Technics 3 em 1 que ganhei de quinze anos e umas almofadas) e ouvir meus vinis como preparação pro dia. Depois, no ônibus, o que tinha acabado de ouvir continuava ressoando e era uma espécie de trilha sonora pras minhas divagações e projeções mentais pro futuro. O “Treasure” era recorrente nessas manhãs. Anos mais tarde comprei o CD, que durante alguns meses foi meu “disco de acordar” – uma aterrissagem suave do mundo onírico pra realidade.

Ouça “Lorelei”:

The Jesus and Mary Chain – “Automatic” (1989)
Em dezembro de 1989, vim morar em Porto Alegre pra cursar três semanas de pré-vestibular e, em seguida, a Faculdade de Direito da UFRGS. Vivia no circuito Lola-Ocidente-Porto de Elis, me ambientando à cidade e agregando coisas ao meu gosto musical. Numa noite quente de quinta-feira, fui a uma festa no Ocidente que teve projeções num telão e execução integral do (então recém-lançado) “Automatic” – uma celebração inesquecível. Imaginam isso hoje?

Ouça “Blues For A Gun”:

Ramones – “Rocket To Russia” (1977)
Acho que os Ramones fizeram música adolescente – no melhor sentido da palavra –, mas, paradoxalmente pra mim, só acordei pra existência deles com vinte e poucos anos, no exato ano em que me formei em Direito. Antes disso achava que eles eram “pouco sérios” (“Rocket To Russia” foi o primeiro deles que ouvi) e dava mais atenção pra bandas mais “adultas” e que exibissem o que me parecia ser mais qualidade técnica, talvez como resquício de uma infância em que ouvi quase que exclusivamente música erudita. Não lembro exatamente como aconteceu a epifania, mas, da quase indiferença, passei a comprar todos os discos e livros e ir a todos os shows possíveis. Quando o Joey se foi fiquei triste a ponto de precisar encerrar o expediente mais cedo. Eles têm muito a ver com o fato de, com trinta e poucos anos, eu ter me aventurado a cantar: virtuoses intimidam, mas os Ramones mostraram que todo mundo pode ter uma banda. Hoje penso que a limitação técnica pode ser a mãe da criatividade: quem não sabe reproduzir o que existe é obrigado a inventar outra coisa. E já não acho que eles sejam limitados; afinal, entre outras coisas, o Johnny tinha o downstroke mais rápido do Velho Oeste – coisa que definitivamente não é pra qualquer um.

Ouça “Cretin Hop”:

MURILO BIFF (guitarra)

“Escolher os cinco melhores álbuns da minha vida com 34 anos não será nada fácil. Com quinze, seria fácil. Pouco conhecimento, um vazio nos conceito e opiniões ainda a se formar etc… Deixar de fora tantos discos que gosto como o “Cathedral”, do Castanets, qualquer disco dos Eagles Of Death Metal ou outro dos Stooges? Mas vamos lá”.

The Velvet Underground – “The Velvet Underground And Nico” (1967)
Esse disco mudou toda minha concepção em relação a música. Mudou toda minha concepção sobre o que se falar em uma letra. Que a formatação de uma banda de rock pode ser diferente de uma banda de rock sem deixar de ser rock. Que uma guitarra pode soar tão aguda e raivosa mas ao mesmo tempo tão suja e doce. Que um disco pode ser captado com uma verdade tão crua e tão foda, porque no fim das contas aquilo que interessa mesmo em um grande disco são as músicas que ele carrega.

Ouça “I’ll Be Your Mirror”:

Giorgio Moroder – “From Here To Eternity” (1977)
Esse disco eu descobri no meio dos vinis dos meus pais. Eu olhei pra capa e pensei: “Que merda é essa?”. Liguei o toca-disco, posicionei a agulha no início da primeira faixa e assim foi meu primeiro contato com a música eletrônica. Um mergulho completo em uma viagem cercada de sintes, vocoder e bit constante. Moroder fez todo o “lado A” sem intervalos entre uma faixa e outra. O legado da pista de dança estava ali. E o melhor é o aviso na ficha técnica dizendo: “Este disco foi todo gravado com sintetizadores”. Já baixei ele em MP3 mas não foi a mesma coisa, não bateu igual. Eu comprei no mês passado um toca-disco semi-novo porque tenho muita vontade de escutá-lo. Agora só falta um amplificador semi-usado pro prato, resgatar o disco da casa dos meus pais e agradecer ou pedir desculpas ao Kraftwerk, por adorar esse vinil.

Ouça: “From Here To Eternity”:

Os Replicantes – “Papel De Mau” (1989)
A música sempre me aproximou de pessoas, nem sempre elas eram boas pessoas, mas a grande maioria era. Meus amigos que tocavam guitarra em Araranguá (cidade onde me criei, perto de Criciúma, no sul de Santa Catarina, onde nasci), lá por volta de 1991 ou 1992, já tocavam muita guita. Solos do Slash, “Spider Chord” do Dave Mustaine, os graves do Tommy Iommi, a sincronia entre os guitarristas do Iron Maiden, tudo isso era pauta nas rodinhas da turma do centrinho. E eu ali no meio escutando todo esse papo, ainda começando a tocar guitarra, pensava “buceta, tô fudido, não toco um ovo, que merda é essa de arpejo, do que esses caras estão falando? Putz eu vou ter que praticar pra conseguir fazer, o quê? No mínimo uma hora por dia? Que saco!”. Então, um belo dia um amigo me vende um disco: “Os Replicantes – Papel De Mau”. Quando escutei pensei: “caralho, é isso, pro inferno com aquela punheta toda. O lance é a pegada. Não precisa ter solos mirabolantes, não precisa saber tocar como os outros já tocam, tenho que descobrir como eu toco”. Confesso que ainda não descobri, ainda busco e por isso sofro muita influência de guitarristas novos da cena musical mundial, como exemplo posso citar Jamie “Hotel” Hince do The Kills e o Troy Van Leeuwen do QOTSA e me pergunto: por que não descobri esse jeito de tocar antes? Mas o que esse disco mais me ensinou até hoje é que eu não preciso tocar as músicas dos outros artistas como eles tocam pra acreditar que sei tocar. Esse disco me ensinou a compor minhas próprias músicas. Quando tentei “tirar de ouvido” a música “Problemas”, eu tocava sozinho; conforme havia escutado e ela ficava certa. Mas quando eu colocava com o vinil para tocar junto ela não ficava mais certa (música que não é das mais difíceis, me disse o próprio Claudio Heinz, quando contei essa história pra ele). Ou seja, tirei errado mas deu certo, minha primeira versão. Mesmo sendo por falta de técnica ou falta de competência, eu, com menos de um ano de guitarra nas mãos, já tinha minha primeira versão. Uma música de um outro artista com a minha pegada. Assim, logo comecei a compor minhas próprias músicas, criar meus próprios rifes e quando mostrei pra turma da pracinha os caras perguntaram: “que legal isso aí, de quem é?”. E eu respondia, com uma certa arrogância: “é meu, ficar tocando coisas dos outros como os outros tocam não tá com nada, o canal é fazer as próprias músicas”. E depois de um breve silêncio vinham as respostas: “bah, é tua? Que massa! Olha só eu to montando uma banda e tu não é afim de…?”. Quando vim morar em Porto Alegre, fiquei um tempo sem banda mas um dia mostrei pra um amigo uma música minha, gravada em um pequeno estúdio em Araranguá, material simples pra não dizer ruim. Tudo gravado por mim com bateria eletrônica, violões, guitarras e contrabaixo. Ele disse: “Olha só eu tenho uma banda e precisamos de um guitarrista e tu compõe e tu não é afim de…?”. Em qualquer lugar do mundo acho que seria a mesma coisa, é só mostrar uma música própria que logo vem a frase “olha só, eu tenho uma banda e tu não é afim de…?”.

Ouça “Papel De Mau”:

The Beatles – “Revolver” (1966)
Por que esse disco está na minha lista? “Tomorrow Never Knows” é a resposta. Essa música é incrível e sempre será. É um tapa na cara de músico cagado pra música. Um tiro na bunda de um bando de caretas que não se arriscam, sempre fazendo a mesma coisa, que na cabeça medíocre deles teoricamente é o correto. Mas no fundo são mesmices com fórmulas de composições baratas. Essa música rompe com tudo isso. Sem falar nas três faixas do George Harrison e da balada mais foda de todos os tempos “I’m Only Sleeping”. Esse álbum é foda! A divisão de estéreo desse disco é algo que não se faz mais.

Ouça “Tomorrow Never Knows”:

Primal Scream – “XTRMNTR” (2000)
Esse disco eu só não furei de tanto escutar porque não tenho em vinil, mas o primeiro CD-r que eu gravei foi posto fora porque o suor das minhas mãos fuderam com a mídia. E é sério. Esse álbum é sensacional! Talvez não o mais importante pra própria banda, mas pra mim ele foi fundamental. As texturas das guitarras combinadas com os elementos eletrônicos, com as linhas de baixo do Mani, mais os vocais do Bobby Gillespie são de chorar no cantinho. Os timbres? O que são os timbres dos instrumentos nesse disco? Confesso que havia esquecido dele para minha lista dos cinco, faltava um. Conversando na janta com a Júlia (minha esposa) eu disse: “Falta um disco, eu não sei qual citar”. Ela rapidamente respondeu: “Primal Scream!”. Minha cara caiu em cima do pastelão de forno que estava comendo e de forma “pastélica” ela se ergueu dizendo: “Claro! O ‘Exterminator’ do Primal Scream! Baita disco”. Faz parte da minha lista sim, volta e meia dá vontade de escutá-lo. E é isso que vou fazer agora mesmo, escutá-lo. Sem uma cerveja que seria o ideal, mas ao menos tenho o meu filtro vermelho e um resto de refrigerante de cola.

Ouça “Kill All Hippies”:

RODRIGO PRATI (bateria)

“Essa minha lista de ‘discos da vida’ não é formada necessariamente pelos álbuns que hoje considero melhores, mas por aqueles sobre os quais posso contar a história da vida. Eles são inseparáveis de seus contextos, e minha lista leva isso em consideração – pra entender minhas escolhas, você deve entender o critério. A história da vida aconteceu, e esses álbuns simplesmente estavam lá”.

Michael Jackson – “Thriller” (1982)
Eu tinha nove anos e essa é minha primeira memória de ouvir algo genial. Ritmo, melodia e arranjo. Esse álbum ficou no repeat, mesmo que na época não houvesse repeat, e eu fiz aquilo por meses, até escorrer uma gota de sangue pelo ouvido. Sei que isso aconteceu com quase todo mundo, mas já na largada, fica acertado aqui que eu sou o mais mainstream dos lautmusikers.

Ouça “Billie Jean”:

The Cure – “Kiss Me Kiss Me Kiss Me” (1987)
Nessa época eu já estava traumatizado por The Cure tanto no início “corta-pulsos”, como em “The Head On The Door” (1984, o mais pop) e depois “Disintegration” (1989, o melhor). Mas “KMKMKM” ainda é o mais completo, eclético e perfeito álbum dessa banda que virou uma obsessão de adolescência. Uma montanha-russa de estilos e humores. Sim, “I’m a Cure freak”, mesmo que hoje eles não façam mais nada que preste. Teve o seu tempo, mas a cicatriz é indelével.

Ouça: “Catch”:

U2 – “Achtung Baby” (1991)
Sem medo de correr riscos: um dos melhores álbuns da maior banda de rock existente. Sou apaixonado por “Boy”, “October”, “War”, “The Joshua Tree”, “Rattle And Hum” e tudo mais, mas “Achtung Baby” talvez seja a obra-prima. E “Ultraviolet” é a faixa.

Ouça “Ultraviolet”:

Bloc Party – “Silent Alarm” (2005)
Esse não é um álbum épico, mas pra mim, em meio a Interpol e Arcade Fire (que são bandas melhores no conjunto da obra), foi uma das coisas mais contagiantes que se gravou no gênero nessa década – rápidos, precisos e melódicos. Eu perdi dez quilos correndo ao som desse álbum. Um dia eu enjoei, e engordei os dez quilos de novo.

Ouça “This Modern Love”:

Lautmusik – “Lost In The Tropics” (2011)
Pretendo um dia ficar velho. Vou olhar pra trás e dizer que ajudei a gravar um álbum. É irrelevante o fato de ele ser irrelevante para a história da música. São aproximadamente quarenta minutos, e eu conheço cada nota. Listá-lo aqui não se trata de autopromoção, mas de um exercício de orgulho por algo realizado. Piegas ou não, mesmo que ele fique esquecido dentro de um armário e ninguém mais o escute, fui eu que fiz.

Ouça “Mai”:

CASSIO JD (guitarra)

Miles Davis – “Kind Of Blue” (1998)
Quando eu preciso de qualquer tipo de inspiração, ouço jazz. E nesse discão do Miles as musicas soam efetivamente como um festival harmônico. O Coltrane tá ali dando aquela força na detonação e a cozinha é um absurdo. Música pra acordar.

Ouça “So What”:

Cocteau Twins – “Treasure” (1984)
Melhor calmante: ouvir a voz suave e grandona da Liz (Elizabeth Fraser, vocalista), cantando em “cocteautwinês” (N.E.: O Cocteau Twins não canta numa “lingua” inventada por eles mesmos; são apenas fonemas encaixados na música), nenhuma preocupação com as letras. Praticamente um disco instrumental. Tudo etéreo até o caroço. Teletransporte do bom.

Ouça “Pandora (For Cindy)”:

The Beatles – “Rubber Soul” (1998)
Beatles é Beatles e vice-versa. Canções perfeitas, inovação e conjunto. Esse vinil rolava até furar no 3×1.

Ouça “Nowhere Man”:

DeFalla – “DeFalla” (1987)
Ouvir esse disco e ver esses caras foi um dos lances que me fez acreditar que a microfonia é a luz, o caminho e a vida. Fora o fato deles andarem por aê, na vizinhança; bem comum ver os caras pelas calçadas com um assento de vaso sanitário pendurado no pescoço. Era aquela coisa: o barulho morava ao lado, a atitude idem e a chalaça ibidem. Inspiração.

Ouça “Sobre Amanhã”:

The Smiths – “Hatful of Hollow” (1985)
Esse foi um dos, senão “o”, disco que eu mais ouvi na adolescência. Os dedilhados e tríades do Marr, somados às letras desesperançosas do Morrissey, eram efetivamente música pros meus ouvidos. aquela coisa de ficar a tarde chuvosa inteira no quarto escuro com o vinil baixinho, torcendo pro 3×1 Philips trocar sozinho do lado A pro B, do lado B pro A, do lado A pro B…

Ouça “This Charming Man”:

GUILHERME NUNES (baixo)

Radiohead – “Ok Computer” (1997)
Quando vi o e-mail da Alessandra avisando que a gente ia participar desse “quadro”, foi o primeiro disco que me veio à cabeça. Certamente é o disco que mais mudou a minha vida. Quando eu tinha quinze anos, achava que sabia tudo de música porque conhecia, sei lá, Cato Salsa Experience e Jon Spencer. Daí vem esse disco, maior “your argument is invalid” que eu já vi. Todas as certezas que tu tem, tudo que tu acha que sabe de arranjo, de timbre, de sonoridade… Tudo é revolucionado. E como se não bastasse tudo isso, as músicas são incríveis.

Ouça “Karma Police”:

New Order – “Get Ready” (2001)
Quando eu era criança (bem criança, tipo cinco, seis anos), o carro da minha mãe só funcionava com fitas cassetes. E ela tinha pouquíssimas: Paralamas, New Order, Smiths, Police e uma de sons da floresta totalmente inexplicáveis, então eu sempre curti New Order. Mas quando eu ouvi o “Get Ready” – que saiu quando eu já era mais velho, óbvio – e percebi que aqueles solos brilhantes (brilhantes no sentido de genial e de brilho mesmo) eram feitos pelo baixo eu fiquei completamente fascinado pela banda e fui atrás de toda a discografia. E esse disco é que deu o start.

Ouça “Crystal”:

Black Rebel Motorcycle Club – “Take Them On, On Your Own” (2003)
É o segundo disco deles mas é o primeiro que ouvi, e desde então é uma das minhas bandas favoritas, uma das poucas que me fez viajar para assistir a um show. Sempre que ando meio sem criatividade ouço esse disco pra ver o que um dos meus ‘gurus baixísticos’ tem pra dizer. Nunca falha.

Ouça “Stop”:

Pavement – “Terror Twilight” (1999)
É um disco que representa um momento de epifania: “nossa, existe música fora da MTV”. Representa toda uma fase de descobertas e, principalmente, é um discaço! É também meio que uma oposição ao que eu disse do Radiohead: ok, é sensacional fazer música com milhares de ambiências e ter dois pedalboards lotados só pra tirar AQUELE timbre DAQUELA música; mas baixo, guitarra e bateria SIMPLES também podem ser foda.

Ouça “Major Leagues”:

Nirvana – “In Utero” (1993)
Esse foi o disco que iniciou tudo. Na verdade acho que todos os discos do Nirvana têm a mesma importância pra mim, mas quando se tem 13 anos é muito mais legal bater no peito e dizer “o ‘In Utero’ é melhor”, então vou tentar manter uma certa coerência. Mas pior que eu realmente acho o “In Utero” melhor, e as músicas dele foram mais importantes pra mim do que as do “Nevermind” – talvez porque as do “Nevermind” tenham mais importância pra muito mais gente, daí eu achava que tinha uma relação mais próxima com essas músicas. Por mais que faça uns dois anos que eu não ouço esse disco, certamente mudou a minha vida.

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Ouça “Rape Me”:

Na próxima edição de “Os Discos da Vida”, Marcelo Costa.

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Looking For Jenny”.

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