OS DISCOS DA VIDA: LOOKING FOR JENNY

A Looking For Jenny surgiu em 2010 e “Random Walk”, o primeiro EP, foi infelizmente pouco divulgado – ou teve repercussão menor do que merecia. Isso pode mudar com o próximo disco, “Monkey Rudiments”, disponível no começo de 2012.

A banda mudou. Agora, a bateria é comandada por Andrêi Krasnoschecoff e há um certo incremento de “dedicação profissional” no que antes parecia ser um passatempo desses físicos (sim, sim…), meio ao sabor do vento, meio na dependência das ações aleatórias do destino. O primeiro single do disco, “What You Said”, dá a pista.

É preciso ouvir pra entender, porque se depender dessa edição de “Os Discos da Vida”, é capaz de você ficar confuso com relação à formação da banda. Há uma saudável mistura de estilos, gostos e cultura musical, pra mostrar que mesmo randomicamente os caminhos se cruzam em algum momento e fomentam algo novo. Não é tão difícil perceber, mas o Looking For Jenny, com seu habitual nerd-nem-aí, quando menos se espera, mostra a direção.

Os caminhos surgiram a partir daqui.

THIAGO WERLANG (vocal e guitarra)

Black Sabbath – “Master Of Reality” (1971)
Na época que escutei esse disco pela primeira vez, meu interesse por música era ínfimo. Isso mudou depois de pegar algumas fitas K7 de um amigo. Entre músicas aleatórias do Sepultura e um álbum do Led Zeppelin que não lembro o nome, encontrei o Black Sabbath. A fita era praticamente o álbum “Master Of Reality”, mas no lado B rolavam algumas músicas do “Sabbath Bloody Sabbath”. Esse disco é o meu marco zero.

Ouça “Children Of The Grave”:

Smashing Pumpkins – “Siamese Dream” (1993)
Escutar “Cherub Rock” afetou consideravelmente a minha relação com a música. Surgiu a vontade de tocar um instrumento e montar uma banda. Comecei a gastar uma boa parte da minha grana comprando discos. Travei uma batalha contra uma colônia de formigas pelo uso de um videocassete velho para assistir shows e clipes. As guitarras desse disco são inacreditáveis. Músicas como “Rocket”, “Quiet” e “Spaceboy” irão me acompanhar até o fim dos dias (o que pode ocorrer em breve). “Siamese Dream” foi o auge da banda, que começou a desmoronar depois do “Mellon Collie”. Os b-sides lançados nessa época eram igualmente fantásticos. Basta escutar o “Pisces Iscariot”, o segundo melhor trabalho da banda. Como se isso não bastasse, soube da existência do My Bloody Valentine lendo uma reportagem sobre os Pumpkins.

Ouça “Cherub Rock”:

The Cure – “Staring At The Sea” (1986) (N.E.: O vinil saiu com o título de “Standing On The Beach”; o título indicado aqui por Thiago é o que saiu em CD em alguns países, como o Brasil)
Um top 5 sem um álbum do The Cure seria a prova definitiva de que meu cérebro está sendo atacado por alguma mazela. Como não é esse o caso, escolho a coletânea “Staring At The Sea”. Foi através desse disco que conheci a banda, um dos melhores presentes que já recebi. Fui nocauteado por “Killing An Arab” na primeira audição. Outro motivo para escolher essa coletânea chama-se “Charlotte Sometimes”. Essa música foi lançada entre o “Faith” e o “Pornography” e não aparece em nenhum álbum do Cure (não estou considerando a versão do “Faith” relançada em 2005). Resumindo, esse álbum (e principalmente essa música) traz à tona uma das melhores fases da minha vida.

Ouça “Charlotte Sometimes”:

Dinosaur Jr. – “Bug” (1988)
Só tenho uma coisa para falar a respeito desse disco: escute antes de morrer. Quem conhece a banda e já ouviu alguma música da Looking For Jenny tem uma boa idéia do quanto eu gosto do Dinosaur Jr.

Ouça “They Always Come”:

Built To Spill – “There’s Nothing Wrong With Love” (1994)
Para Albert Einstein, o ano de 1905 foi extremamente generoso. Além da Teoria da Relatividade (Restrita) ter sido publicada nesse ano, Einstein também apresentou a sua famosa equação E = mc2. No meu caso, e falando em termos musicais, 1997 foi um grande ano. Neste ano conheci bandas que influenciam diretamente as músicas que componho, como, por exemplo, Eric’s Trip, Guided By Voices e Pavement. Um álbum que representa bem esse ano é o “There’s Nothing Wrong with Love”, do Built to Spill, lançado em 1994. O segundo e melhor álbum da banda, construído com guitarras desconcertantes e melodias que me proporcionam uma mistura de fascínio e inveja. Uma das minhas músicas favoritas está nesse álbum: “Big Dipper”. Fechar essa seleção com o Built To Spill oferece uma segunda vantagem. Mencionar que o Doug Martsch fundou outra banda, o Halo Benders, com o genial Calvin Johnson. Se você não conhece essa banda escute o álbum “Don’t Tell Me Now”, um discaço.

Ouça “Big Dipper”:

OTÁVIO FABRIS GAMA (guitarra)

Mineral – “The Power Of Failing” (1997)
Uma coisa que aprendi ouvindo música é o seguinte: Chris Simpson nunca me decepciona… Seja no Gloria Records, Seja no Zookepper Project! Mas tudo isso se deve a essa banda (Mineral) e a esse disco (“Power Of Failing”). Esses caras, liderados pelo Chris são, na verdade, indiretamente responsáveis por muito lixo que existe por ai que geral chama de emo, uma apropriação muito raza sem fundamento de um termo que surgiu em Washington no meio da década de oitenta, com o Embrace. A segunda onda emo, liderada pelo Mineral e que produziu na minha opnião uma das maiores obras da música independente, sempre me fascinou desde a primeira audição. A voz do Chris, as microfonias e distorções muito bem colocadas (o tempo todo), todas usadas para o bem (vide “Slower” e “Gloria”)… São fodas demais. É um daqueles discos que me marcaram desde garoto e que ainda ouço bastante.

Ouça “Slower”:

Hot Water Music – “Caution” (2002)
O “Caution” é um disco que eu defino assim: o melhor disco da melhor banda! Sou obcecado por Hot Water Music. Nunca fui de ouvir muito, mas desde que conheci sempre me chamou atenção. Com o passar do tempo, ficou claro que tipo de som eu realmente gosto… Não que não goste de outras coisas… Mas, pra mim, o melhor que se dá pra fazer é o que o Hot Water Music faz. E nesse disco eles simplesmente destroem tudo. As músicas “Trusty Chords” e “Wayfarer” são geniais… As outras todas são perfeitas.

Ouça: “Trusty Chords”:

Godspeed You! Black Emperor – “F#A# Infinity” (1997)
Esse é o disco mais dificil de falar sobre ou porque ele está aqui. O Thiago me perguntou uma vez “quando você ouve Godspeed?” e minha resposta foi: “quando tô fazendo outra coisa, quando tô viajando ou quando tô deitado pensando!”. Acho que essa útlima parte eu não falei mas ela serve também. Esse disco é um dos discos que eu mais ouço atualmente e acho que desde que ouvi a primeira vez nunca mais saiu do meu MP3 player. Eu acho música experimental, post-rock, uma das melhores coisas para se escutar e é muito bom (deve ser – risos) de tocar. Mas dá pra ser uma merda! Não é o caso do “F# A# Infinity”. Esse disco é genial!

Ouça “Easy Hastings”:

Queens Of The Stone Age – “Songs For The Deaf” (2002)
Um amigo meu costuma dizer que um disco é bom na medida que você começa a gostar dele quanto mais você ouve. Isso é o que aconteceu comigo quando ouvi Queens… Na primeira vez, achei sacal! Passadas audições do “Songs For The Deaf”, não consigo deixar de citar esse álbum entre os cinco, pois ele me parece uma evolução das coisas que eu sempre gostei: rock’n’roll seco, timbres destruidores, pegada foda… Destruição total! Depois que comecei a tocar guitarra, comecei a curtir muito mais Josh Homme e cia. Com o Dave Grohl na bateria, esse disco se tornou uma mistura explosiva… Stonner da melhor qualidade possível!

Ouça “A Song For The Dead”:

Green Day – “Dookie” (1994)
Esse albúm é muito especial pra mim! Quando comecei a escutar música não sabia que isso seria algo tão importante… E teve um fim de ano que fui ao Rio de Janeiro visitar meus parentes e fiquei na casa de um primo meu que me fazia escutar coisas como Rancid, Offspring, Ramones, Pennywise, Nofx e… Green Day. Daí, sei que o “Dookie” me marcou demais. Meio que influenciado por essas bandas comecei a aprender a tocar contrabaixo, mas depois de bastante tempo e essas bandas foram minhas grandes influências não só no estilo mas também no instrumento que escolhi pra aprender. Tudo que ouço de música hoje vem porque eu comecei a escutar Green Day.

Ouça “Longview”:

BRUNO PINHEIRO IVAN (baixo)

Korn – “Korn” (1994)
Minha relação com a música não foi muito precoce. Ouvia o que estava tocando por perto e não dava grande importância. Só aos dezessete anos comecei a ouvir músicas em MP3, que peguei com uns amigos e aos poucos fui formando algum gosto musical. Acho que o Korn foi a primeira banda que gostei por mim mesmo, sem receber qualquer indicação. Gostava tanto que acabei optando por um baixo de cinco cordas quando resolvi começar a tocar. Hoje não escuto mais, nem sei como anda o som deles.

Ouça “Blind”:

Motörhead – “Iron Fist” (1982)
Estava descendo pra praia com uns amigos quando alguém colocou uma coletânea do Motörhead pra tocar. Talvez influenciado pelo momento, estabeleci uma relação de paixão instantânea com a banda. Voltando da viagem comprei o “Iron Fist”, que pra minha alegria tinha boa parte das músicas daquela coletânea. Por um bom tempo só gostava de músicas que fossem rápidas ou pesadas e o Motörhead era a fusão perfeita destas duas qualidades.

Ouça: “Iron Fist”:

Rammstein – “Reise Reise” (2004)
Conheci o Rammstein pela faixa “Du Hast”, que constava na trilha sonora do filme “Matrix”. Adorei o peso das duas guitarras e aquela voz grave cantando coisas que eu não entendia. Comecei a acompanhar seus novos lançamentos até que veio o “Reise Reise”, pra mim o melhor disco deles. Esta banda me ajudou a perceber que nunca dei muita importância pra letra das músicas, tinha a voz mais como um instrumento desenvolvendo sua própria linha melódica.

Ouça “Los”:

Beastie Boys – “The Mix-Up” (2007)
Gostava dos Beastie Boys muito antes deste disco, sempre achei uma banda divertida e com excelentes músicos. O difícil era convencer meus amigos disto, ninguém parecia conseguir ultrapassar a barreira daquelas vozes estridentes e prestar atenção nos outros elementos da música, confesso que eu também não sou muito fã das vozes dos caras. Com este disco somem as vozes e transparece o motivo pelo qual sempre gostei da banda. Também foi com ele que passei a gostar mais de música instrumental e percebi que neste gênero, assim como no rock, a complexidade de execução não está diretamente relacionada com a qualidade da obra.

Ouça “Off The Grid”:

Stephen Malkmus And The Jicks – “Real Emotional Trash” (2008)
Uma vez disse ao pessoal da Looking For Jenny que nunca teria entrado na banda se, alguns meses antes do convite, não tivesse começado a ouvir Pavement. O próprio Otávio, quando procuravam por um baixista, demorou a me fazer o convite, pois tinha quase certeza que eu não aceitaria. Só cheguei a ouvir Pavement depois de conhecer este disco, então posso dizer que o “Real Emotional Trash” foi a minha porta de entrada para o mundo do indie lo-fi. Com o gosto musical expandido, aceitei o convite, agora é ver no que vai dar.

Ouça “Hopscotch Willie”:

ANDRÊI KRASNOSCHECOFF (bateria)

Vintersong – “Till Fjälls” (1998)
Foi o primeiro álbum dele que ouvi. Fiquei fã, não sei explicar, simplesmente gosto. Letras diferentes (cantadas em sueco), bateria diferente, música diferente (do que eu escutava até então). Recomendo todos os CDs do Vintersorg, mesmo. Cada CD é um “mundo” diferente, desde o peso das músicas até a temática (que vai do paganismo até a matemática, passando pela filosofia). Ouça o CD inteiro! Se preferir, fica a dica de ouvir “Rundans”, “Till Fjälls” e “Fangad Utav Nordens Själ” (o refrão dessa última tem o hábito de grudar na cabeça).

Ouça “Fangad Utav Nordens Själ”:

Borknagar – “Quintessence” (2000)
Outra banda que me deixa pirado. O metal deles é diferente, fugindo de títulos como “viking metal, death metal, seiláoque metal“. Borknagar é Borknagar, cada álbum é uma surpresa, um mundo (também, eles sempre mudam de integrantes…), eles não se prendem a um jeito de tocar. Desse álbum, se não me engano, a primeira música que ouvi (ou vi um clipe na Internet) foi da “Colossus”. Desde então, viciei e recomendo todos os álbuns – até o “Origin”, que é acústico – e que não agradou os metaleiros mais tradicionais. Recomendo o disco inteiro também, mas tenho o costume de ouvir mais “Colossus”, “Ruins Of Future”, “Icon Dreams”, “Genesis Torn” e “Rivalary Of Phantons”.

Ouça: “Colossus”:

Terry Bozzio – “Drawing The Circle” (1998)
Esse é bem pra quem curte bateria. É um CD onde Terry Bozzio toca, sozinho, sua bateria gigante. Foi vendo e ouvindo-o que vi o que um baterista pode fazer numa bateria. Escute “Djon Don”. Veja no YouTube também, impressiona mais vê-lo tocando, pois são tantos sons que fica difícil imaginar o que ele realmente está fazendo, e ver ajuda e entender o que acontece na música. Sem falar da impressão que tantos tambores e pratos podem causar!

Ouça “Djon Don”:

The Seatbelts – “Cowboy Bebop Cd Box Set – Disco 4” (1998)
A banda, na verdade, não existe. Ela foi criada pra um anime chamado “Cowboy Bebop”. Yoko Kanno assina a autoria da maioria (ou todas, não lembro – N.E.: sim, todas) das músicas. Eles gravaram as trilhas sonoras pro desenho. Mas então eles resolveram fazer um show ao vivo, e então temos o disco 4 e um DVD. São vários estilos de música, mas é bem perceptível a influência do blues e do jazz nas composições (entre outros estilos variados). Destaque para “Real Folk Blues” e “Tank!”.

Ouça “Tank”:

Ultraje A Rigor – “Acústico MTV” (2005)
Acho divertido, e o Bacalhau deixou as músicas mais animadas com seu modo de tocar. É o velho e bom rock sem vergonha do Ultraje. Gosto da maioria das músicas. Influenciou no meu modo de tocar? Não sei! Não tenho mais o que dizer. Destaque pra “Ponto de Ônibus”. Nada a Declarar.

Ouça “Ponto De ônibus”:

Na próxima edição de “Os Discos da Vida”, Lautmusik.

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Badhoneys”.

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