OS DISCOS DA VIDA: REPENTINA

“Repentina”, lançado em 2010, é um grande disco. A partir dele, virei fã de Eliane Testone, a Repentina. A comparo ao Drugstore e torço pra que ela não fique de toda chateada. Isabel Monteiro não figura na enorme lista de cantoras e músicas que ela admira, exposta no prefácio próprio ao seu “Os Discos da Vida”, mas poderia.

Eliane é feminista, como ela mesma afirma, e sua preferência por bandas de mulheres talvez se explique por isso, ou talvez ela possa ser feminista pelas bandas que ouviu e mudaram sua vida, não importa. A relação existe e está explícita nessa edição de “Os Discos da Vida”.

“Como mulher, me identifico com as letras, visual, ideias e valorizo mais as bandas formadas por mulheres. É natural pra mim”, ela diz. Eu realmente nunca pensei sobre o gênero de quem tá lá tocando, embora prefira vocais femininos, porque as vozes femininas boas são infinitamente melhores que as vozes masculinas boas, ainda mais no estilo de música que me atrai. Mas lendo os textos explicativos sobre cada escolha, é possível entender os motivos de Eliane, e perceber que se tratam de momentos especiais de sua vida. É tudo coerência.

Coerência que se vê recorrente na sua trajetória musical também, tocando em várias bandas, inclusive de uma das que eu mais gosto no alternativo nacional, a Pin Ups. Eliane participou de dois terços da trilogia de atores de cinema, na reta final da discografia da banda, “Lee Marvin”, de 1997; e “Bruce Lee”, de 1999 (o primeiro foi “Jodie Foster”, de 1995).

E, afinal, é uma lista e tanto! Sem bandeira, sem barreiras, sem frescura.

ELIANE TESTONE

Muito difícil eleger 10 discos que mudaram a minha vida considerando que já tenho 32 anos, quase 33, e cada música que a gente gosta acrescenta algo novo, modifica alguma célula ou neurônio, afeta alguma parte do corpo…

Como mulher, me identifico com as letras, visual, ideias e valorizo mais as bandas formadas por mulheres. É natural pra mim, vocal feminino me agrada muito mais. Se a banda for toda de mulher, melhor ainda. Não sou lésbica, só feminista (acho obrigatório ser feminista num mundo no qual queimaram mulheres pra caralho na história, não?). Lógico que tem muitos caras legais na música. Mas já que é para escolher discos partindo do meu gosto pessoal, vamos lá.

Com certeza faltaram todas as minas fodonas que admiro muito, entre elas Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Aretha Franklin, Gogo’s, ESG, Young Marble Giants, Shangri-las, Ronettes, Pandoras, Trashwomen, X-ray spex, Vice Squad, Holly Golightly (Headcoatees), Mary Timony (Autoclave, Helium, Spells, Wild Flag), Heavenly, Slant 6, Sarah Dougher, Slumber Party, Allison Wolfe Baby Donut (Cold Cold Hearts, Bratmobile, Hawnay Troof), Kimya Dawson, Miranda July (não a versão atriz, mas os dois discos spoken-word-punk-rock-meio-filme lançados pela Kill Rock Stars), Beth Ditto (Gossip), PJ Harvey, Patti Smith, Kim Ggordon, Beth Gibbons (Portishead), Isobel Campbell, White Magic, Solea, Cocorosie, Scout Niblett, Björk, Kaki King, Donna Matthews (Elastica, Klang), Kerry Davis (Red Aunts, Two Tears), Sahara Hotnights, Distillers, 7 Year Bitch, Babes in Toyland, Fastbacks, The Gits, Luscious Jackson, M.I.A., Santigold, MC Lyte, Lauryn Hill, Lurdez da Luz, Mckenzie Eddy, Amanda Blank, Uffie, Dessa, Lykke Li, Bat for Lashes, Ladytron, Electrelane, Au Revoir Simone, Best Coast, Beach House, Dum Dum Girls, Vivian Girls, The Knife, Lissy Trullie, LA Vampires, Raveonettes, Tegan And Sara, Those Dancing Days, Warpaint, Yeah Yeah Yeahs… E tantas outras minas representando por aí. Além de todos os caras legais e talentosos que amo, claro (se for citar todos vocês vão desistir de ler meus 10 discos da vida, afinal).

Como a ordem era citar os discos que mais mudaram minha vida, aqui vão alguns:

Siouxsie And The Banshees – “Tinderbox” (1986)
Ouvia vinis góticos e punks (entre eles este) deitada no chão da sala, com a minha irmã mais velha, quando tinha sei lá, oito anos. Era mágico, lembro bem. Assim tinha início minha vida roqueira. Com ela, fui ao show do The Cult aos 12 anos, meu primeiro show da vida depois de chorar pra minha mãe, por ela não ter me deixado ir ver Cocteau Twins, New Model Army, Sisters Of Mercy e Jesus & Mary Chain. Aos 13, já ia pras domingueiras do Madame Satã com a minha outra irmã. Obrigada, irmãs! Siouxsie = punk.

Ouça “Cities In Dust”:

L7 – “Bricks Are Heavy” (1992)
Aos 10 anos, eu queria aprender a tocar bateria, mas depois que o vizinho hippie que me dava aulas se mudou da nossa rua, ganhei uma guitarra. Foi esse disco que me fez querer aprender guitarra-base, pesada e suja! E ter bandas formadas apenas por mulheres (thanks, L7!). Até então eu só sabia tocar em uma cordinha, então minha irmã comprou um pedal heavy-metal e disse: liga o pedal, daí é só colocar um dedo na corda de cima e outro dedo duas casas depois na corda de baixo e tocar as duas cordas ao mesmo tempo. Mudou minha vida. Comecei a fazer música sem parar e montei minha primeira banda aos 15 anos com os meninos do bairro. Pintei o cabelo inteiro de verde, depois azul, depois rosa… L7 = atitude.

Ouça “Pretend We’re Dead”:

Hole – “Live Through This” (1994)
Céu de ametista, pernas e coração de boneca, um dia você vai doer como eu, sou a garota que mente, mente, mente… Sei que muita gente odeia. Sim, amo nirvana, mas posso preferir hole? Obrigada. A Courtney sempre teve roupas e guitarras lindas e músicas mais ainda. Por causa dela, tenho uma amizade de mais de dez anos com a minha goodsister Helena, que tocou comigo no Hats e Las Dirces. A gente amava Hole com todas as forças. Finalmente vimos um show juntas esse mês! Mas a amizade é mais forte do que tudo. A música une as pessoas, definitivamente. A Helena nem liga que hoje eu curto rap e eu nem fico com ciumes que ela toca com outras pessoas. Hole = heart.

Ouça “Doll Parts”:

Bikini Kill – “Pussy Whipped” (1993)
Banda que me introduziu ao Riot Grrrl, inspiradora pra caralho (ou melhor, pra vagina!). Na música “Alien She”, parece que a Kathleen Hanna grita meu nome “Eliaaaaaaaaane” (“alieeeeeeeeeen!!”). Assim, ouvi o chamado para o feminismo punk. A primeira vez que ouvi, ou melhor, vi algo sobre o Bikini Kill foi no adesivo colado no baixo da Alê, num show do Pin ups! Fui atrás do disco na galeria do rock, porque nem tinha Internet no Brasil ainda. BK = revolution girl style.

Ouça “Sugar”:

Sleater-Kinney – “Dig Me Out” (1993)
Banda mais foda de todas as riots na minha opinião. Letras perfeitas, guitarras lindas. É uma das minhas bandas preferidas e de todas as minhas amigas. S-K = amizade, sisterhood.

Ouça “Dig Me Out”:

The Donnas – “American Teenage Rock And Roll Machine” (1998)
Este disco foi presente de natal do meu ex-namorado, Flavio Forgotten, anos atrás. Ele me deu numa sacolinha junto com o primeiro disco delas e um relógio swatch rosa. Lovely. O Fla me mostrou mil e uma bandas que amo até hoje, mas quem me apresentou as Donnas foi minha amiga, Alê bBriganti, na época do Pin Ups. Lembro até hoje da cena no estúdio Rocha, num dia de ensaio da nossa ex-banda Lava: meninas, olha só essa banda (e mostrou a foto numa revista). Gamamos (risos). Donnas = diversão!

Ouça “Checkin’ It Out”:

Muffs – “Really Really Happy” (2004)
Todas as músicas de todos os discos do Muffs são bem legais, mas esse é o meu querido. A Kim Shattuck tem o melhor grito e melhores melodias ever. Sempre de batom vermelho e franja. O que mais me agrada nela é sua espontaneidade em compor, tocar e ser quem ela é, meio desencanada, meio nem aí e megaprodutiva (escreve, toca, tira fotos…). Posso falar, pois a conheci pessoalmente em New Jersey e ela foi engraçada e nada estrelinha. Muffs = true!

Ouça: “Everybody Loves You”:

The Runaways – “The Runaways” (1976)
Perfeito pra um sábado à noite com as amigas, for fun! Quem me mostrou essa banda quando eu devia ter uns 12 anos foi a minha irmã, que apareceu com uma fita k7 na mão: “essa banda aqui é só de mulheres. Sabe a Joan Jett?”. Inspirou tudo o que eu queria ser e me tornei na adolescência: guitarrista, vocalista e encrenqueira! Meu ex-namorado me ajudou a ficar viciada na Joan Jett, ouvíamos direto. Foi minha fase batom vermelho, colete jeans, cabelo preto repicado, all-star e calça de oncinha. Meu sonho de ver Joan Jett and The Blackhearts ao vivo se realizou no verão de 2000, aos 21 anos, num show de graça no Central Park. Tenho a palheta da Joan até hoje. Runaways = female rock and roll.

Ouça “Cherry Bomb”:

Cat Power – “Moon Pix” (1998)
Chan Marshall é ultra talentosa e tem a voz mais linda do mundo, me inspira muito. Gosto dos discos novos dela, mas essa fase mais antiguinha é a que mais me toca. Ganhei de aniversário da minha sister Helena a biografia não autorizada da Cat Power e devorei, amei, chorei. Não sou boa compositora como ela ou a Kathleen Hanna, mas a Repentina é a minha Julie Ruin, é a Cat Power dentro de mim. É o que tem pra hoje. Cat Power = love.

Ouça “Cross Bones Style”:

Spinnerette – “Spinnerette” (2009)
Banda nova da Brody (Dalle). Foda. Disseram que eles tocariam no Brasil esse ano, mas como ela e o Josh ficam se reproduzindo o tempo todo ela está muito ocupada com sua prole e tem mais o que fazer. Brody, a gente te espera, nem precisa esquentar. Brody = hot.

Ouça “All Babes Are Wolves”:

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Sinewave”.

Leia mais:

Comentários

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3 comentários

  1. Amei! Amei a lista de discos e cada comentário sobre eles, o impacto que causou na sua vida, etc.Impressionante como bate com a minha vida, minhas influências, minha trajetória!
    Sempre admirei demais a Eliane, mas agora me sinto mais próxima e amiga rsrs
    Parabéns grrrl pelo bom gosto e ousadia e por ser sempre uma fortalaza feminista no Brasil.

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