OS DISCOS DA VIDA: SINEWAVE

O grande barato da seção “Os Discos da Vida” é descobrir o que as bandas ou pessoas que eu admiro na música alternativa brasileira ouviram pra “se formar” musicalmente (entre aspas, porque essa formação não é cartesiana, não se encerra). Mas há um aspecto ainda mais legal, que é saber a descrição dos motivos pelos quais os discos foram escolhidos.

Veja, há aquelas pessoas que não conseguem expressar por palavras e muitas edições de “Os Discos da Vida” vêm realmente pobres de descrições. Isso é normal, ninguém é obrigado a ter o traquejo da palavra escrita. E há outras, como o Elson e o Luiz, que chegam a emocionar com as descrições. Cada disco aqui está contextualizado na história dessa dupla, que toca com abnegação o selo virtual Sinewave, talvez um dos mais respeitados e importantes da música alternativa brasileira.

E cada texto mostra como tal disco influenciou os caminhos que os dois percorrem ainda hoje na música. Além de administradores do selo, Elson e Luiz mostram suas referências e habilidades em (principalmente) duas bandas, respectivamente a Herod Layne e a Gray Strawberries.

Há um outro fator curioso a ser observado: a diferença de idade dos dois está caracterizada nas escolhas, mas ela definitivamente não importa. É uma diferença que acaba levando à convergência e as preferências se completam.

Por tudo isso é que dá pra prever uma vida longa à Sinewave. Ainda bem.

ELSON BARBOSA

The Beatles – “1962-1966” (1973)
Minha memória não é muito clara se esse foi realmente o primeiro disco extra-Balão Mágico que ouvi na vida. Pode ter sido também uma coletânea fuleira do Elvis de nome genérico (“Os 40 Maiores Sucessos”, algo assim) que descobri na coleção de discos do meu pai. Ou foi o “Thriller”? Induzo minha memória a favor dos Beatles pelo conjunto da obra. Tá certo que citar coletânea é um truque barato pra fugir da definição entre o “Revolver” ou o “Sgt Peppers”, mas a cartilha que pautou o resto da minha vida foi essa coletânea vermelha.

Ouça “Love Me Do”:

New Order – “Substance” (1987)
Esse disco mudou tudo. Porque até então eu lia sobre discos na Bizz e não tinha acesso a eles, salvo lixos de FM que eu ouvia porque acreditava que era aquilo mesmo que importava (minha coleção de discos nessa época era vergonhosa). Lembro do exato momento em que a agulha pousou em “Ceremony” e os primeiros ruídos do vinil soaram antes mesmo daquele rife de baixo, daquela bateria seca, daquela guitarra estridente, daquela poesia mórbida e daquela ciência de que aquele disco, naquele momento, era a coisa certa a se ouvir.

Ouça “Blue Monday”:

Sonic Youth – “Dirty” (1992)
Impossível listar um único Sonic Youth. Fico com o primeiro que ouvi – “Dirty”, que um amigo da faculdade comprou numa baciada no Carrefour, junto com o “Let Love In”, do Nick Cave, e botou pra tocar numa noite em que devíamos estudar pra uma prova (engraçado como nosso HD neural lembra esse tipo de bobagem). Não lembro se foi aquele solinho de bateria em “100%”, a Kim Gordon grunhindo ou “Sugar Kane”, mas dali pra frente tudo foi diferente. Só lembro que não passamos na matéria.

Ouça “Sugar Kane”:

Sepultura – “Roots” (1996)
Não lembro quem foi que um dia cunhou que esse disco é o “Sgt Peppers do heavy metal”. Concordo. Nessa época de faculdade, descobrindo o metal, já havia corroído minhas fitinhas do “Vulgar Display Of Power” (Pantera), “Master Of Puppets” (Metallica), “Meantime” (Helmet) e até o “Chaos AD”. Mas foi o “Roots” que elevou toda essa barulheira ao status de arte. O que mais me chama a atenção é a quantidade de informação que existe nesse disco. Rifes mastodônticos, toda aquela percussão indígena, efeitos, ruídos, esquisitices, o grave em todas as suas formas. Um dos meus discos favoritos até hoje.

Ouça “Roots Bloody Roots”:

Sebadoh – “Bubble & Scrape” (1993)
Conheci o Sebadoh de nome em uma matéria da Bizz (sempre ela), sobre o proverbial “Novo Nirvana”. Meu primeiro download, lá por 1995, foi um trecho de trinta segundos de “Sacred Attention”, conectado no site da SubPop, via telnet, em um terminal só de texto. “Bubble & Scrape” acabou sendo um dos primeiros CDs que comprei pela Internet com a grana do meu primeiro emprego. Comprei no cdconnection.com, loja virtual que existe até hoje com o mesmo layout tosco de 1997. Na real, não lembro bem se minha primeira compra foi esse do Sebadoh, o “Psychic Hearts”, do Thurston Moore, ou o primeirão do Tindersticks, mas o legal dessas divagações é listar mais bandas do que os dez que o Floga-se pediu (a meta aqui é passar de trinta). (N.E.: a tática é ótima e muito bem aceita!).

Ouça “Soul And Fire”:

Pulp – “This Is Hardcore” (1998)
Peguei o britpop mais ou menos em sua ressaca. Já gostava de Oasis, já tinha o “Parklife”, do Blur (esse peguei de um conhecido na faculdade – na troca, dei o “Divine Intervention”, do Slayer, e o cara até hoje acha que se deu bem), já conhecia uns hits do Suede e até o clipe de “Disco 2000” no Lado B. Mas só fui entender mesmo o Pulp e todo o universo dândi-torto do Jarvis Cocker ouvindo essa obra-prima. Disco de cabeceira até hoje.

Ouça “Help The Aged”:

Love – “Forever Changes” (1967)
Esse já é fruto das pequenas maravilhas da banda larga. Um dos primeiros discos que baixei nas sessões de arqueologia pautadas pelas Discotecas Básicas da Bizz. “Forever Changes” pautou um novo interesse em pesquisar o rock psicodélico dos anos 60. Que puxou dezenas de outros – “Odessey & Oracle”, dos Zombies; “Ogden’s Nut Gone Flake”, do Small Faces; Syd Barrett fase Floyd e solo; Kinks – que puxaram centenas de outros, numa matemática que nunca para.

Ouça: “Alone Again Or”:

Mogwai – “My Father My King” (2001)
E tudo mudou, mais uma vez. “My Father My King” não é propriamente um disco, mas um EP de uma única música de vinte minutos de duração. Eu podia citar o “Young Team” (esse sim meu favorito), ou o “Rock Action” (o primeiro que ouvi deles). Mas tudo mudou, mais uma vez, quando comprei esse EP meio que por impulso completista e botei pra tocar. O adesivo na capa – “Two parts serenity and one part death metal” – é praticamente uma definição de caráter. A base é um hino judeu, o arranjo é uma cacetada que só o Steve Albini tem as manhas de gravar. Está tudo ali – introspecção, tensão, caos, redenção. Foi o Mogwai que me induziu a todo o resto – Godspeed You! Black Emperor, A Silver Mt. Zion, Explosions In The Sky, Mono, Slint, redescobrir o Sigur Rós, me viciar em bandas obscuríssimas que nunca sairão detrás de algumas dezenas de links (This Will Destroy You, Yndi Halda, Isis, Pelican, Grails, o fantástico Crippled Black Phoenix). Foi o Mogwai que me induziu a formatar e batizar a minha banda, a formatar e batizar o meu selo virtual, a fuçar e abraçar dezenas de pares nacionais (Gray Strawberries, Hoping To Collide With, S.O.M.A., dezenas, dezenas). A definir meu próprio caráter sereno e death metal. Pense – quando foi a última vez que você descobriu a sua nova banda favorita? Qual foi o último disco que você ouviu não como uma sucessão de faixas, mas como uma experiência? Se não fosse por esses escoceses, talvez eu fosse mais um ouvinte preso ao meme de que a música hoje em dia é uma merda e bom mesmo era a proverbial “minha época”. Era, também. Mas essa “minha época” é cada vez mais hoje.

Ouça “My Father My King”:

Slint – “Spiderland” (1991)
Aqueles gritos de “I MISS YOU!!!”, bicho! Não é obra de alguém normal.

Ouça “Good Morning, Captain”:

Philip Glass – “Koyaanisqatsi” (1983)
“Koyaanisqatsi” é “vida fora de equilíbrio” em alguma língua bizarra. “Koyaanisqatsi”, o disco, é a trilha perfeita do estarrecedor filme de mesmo nome, sem diálogos, personagens ou narrativas. Só cenas do homem evoluindo em direção ao nada.
(N.E.: o filme foi lançado em 1982, mas a trilha só ganhou as lojas no ano seguinte, com uma nova versão em 1998)

Ouça “Koyaanisqatsi”:

LUIZ FREITAS

Oasis – “(What’s The Story) Morning Glory” (1995)
Talvez nada na minha vida foi tão importante quanto esse disco. Até o Oasis se tornar a maior coisa do mundo, meu interesse em música era irrelevante. Era uma criança apaixonada por futebol, que ao ver que era um perna-de-pau (eu era bom no gol, mas com um metro e setenta é foda), queria ser presidente ou astronauta. O Oasis trazia nas suas músicas toda aquela cara de céu nublado, casas de tijolos à mostra, futebol, em suma, a Inglaterra. À partir desse disco, minha vida mudou completamente, e meu fanatismo pelo Oasis fez eu querer ter uma banda e estar na Inglaterra ao invés de ser astronauta, e isso direcionou todas as decisões que tomei na vida. Fui aprender inglês pra entender as letras deles, passei a querer de qualquer forma tocar algum instrumento, meu cabelo, meus círculos de amizade, tudo passou a ser pautado por música, e todos meus planos passaram a levar em conta uma forma de montar uma banda e tocar. Aquilo era a coisa mais importante da minha vida daqui pra frente.

Ouça “Champagne Supernova”:

The Strokes – “Is This It” (2001)
Era 2000, 2001. O Brasil começava a se recuperar dos amargos 1998-1999, quando quebrou seguidas vezes com qualquer espirro que acontecia na Rússia. Minha família estava nisso. A Coca Cola, pizza do fim de semana, Ubatuba em feriado prolongado, tudo isso começava a voltar para as famílias que se ferraram menos na mão do FHC e pela primeira vez podíamos ter o luxo máximo da classe média: a TV a cabo. E com isso, a MTV. A Internet foi chegar depois, então essa era a única esperança minha até então, de escapar das coisas que tocavam na rádio, onde só se salvavam pra mim um ou outro britpop cada vez mais raro no auge do new metal. O Strokes foi meu Nirvana. Tá, o Nirvana é muito melhor. Mas o rock estava condenado à morte na mão do Linkin Park e Limp Bizkit. Com o Strokes, uma nova perspectiva de bandas que ninguém conhecia se abria pra mim. Claro, o Lado B. Aos 11 anos, ver um mundo de bandas relativamente pequenas que não tocavam na rádio e eram muito melhores que essas significavam que não precisaria ser o Oasis no futuro. Claro, o Strokes não era nenhuma dessas, mas foi minha porta de entrada para o tal “indie rock”, que anos depois, assim como o Nirvana cravou uma legião de fãs chatos, viria a se tornar um palavrão na mão dos hipsters.

Ouça “Hard To Explain”:

Radiohead – “Hail To The Thief” (1993)
Calma, eu não sou maluco. Claro que eu gosto mais do “Ok Computer” e do “Kid A”. Mas até esse disco, o Radiohead era a banda dos hits radiofônicos pra mim, não tinha ouvido um disco todo, e pelo que o pessoal da MTV falava (crianças de 13, 14 anos são bem influenciáveis, costumam escutar porcarias tipo Iron Maiden e Ramones, pra você ter uma idéia de como a gente é estúpido nessa idade), o “Kid A” era a coisa mais estranha do mundo e só gente realmente cool gostava dele. Eu não era realmente cool. Comprar o “Hail To The Thief”, na época em que baixar um CD todo na conexão discada era um parto, me introduziu ao Radiohead de verdade. Até hoje lembro da minha fascinação com aquele encarte maluco. Daí fui pro “Kid A”, e daí, pra toda uma perspectiva de bandas novas, cada mais esquisitas, até o The Strokes soar bobo pra mim. O Radiohead sucedeu o Oasis no posto de banda favorita por muito tempo.

Ouça “There There”:

Smashing Pumpkins – “Machina/Machines Of God” (2000)
Meu primeiro e favorito disco do Smashing Pumpkins, que é dessas bandas da adolescência a que mais ficou até hoje. O Billy Corgan é muito competente em explicar como você se sente melhor do que você mesmo. Tem lá suas manias, mas é uma pessoa muito mais humana, alcançável, que os irmãos Gallagher, Thom Yorke ou Ian Curtis. Um herói. No sentido de alguém que tem uma relação com a música tão séria e importante como você. O “Machina” é deles o disco que mais tem a ver comigo. Eu não sou tão heavy metal como o começo deles, claro que não há nada do Smashing Pumpkins realmente ruim (tá, mais da metade do “Zeitgeist” é um cocô, nem eu tenho coragem de defender essa banda que tá aí hoje, mas os indies filhos da puta que foram mostrar suas roupinhas no show do Phoenix e saíram dizendo que aquele show foi uma bosta estão simplesmente errados, pra não dizer muito). Mas por algum motivo, o “Machina” me toca mais. Uma lista dentro da lista: a minha música favorita do Smashing é “This Time”. A segunda é “Wound”. Se eu fizer um top 10, ainda vai entrar daqui “Heavy Metal Machine”.

Ouça “Wound”:

Joy Division – “Unknown Pleasures” (1979)
Ter 14, 15 anos, é uma bosta. Não é uma época boa de ninguém. Em alguns é apenas ruim. Na vida de outros, é um inferno. Os horizontes da vida lhe aparecem enquanto você ainda é um moleque bobo, feio e espinhento, fora os problemas pessoais que podem aparecer pelo caminho. Ok, você já entendeu porque o Joy Division tá aí. Escarafunchar os mínimos detalhes da extensa e confusa discografia do Joy Division era uma aventura, sem falar em pesquisar todos pormenores da vida do Ian Curtis. Essa é uma banda realmente muito legal de ser fã, porque tem muita coisa a ser descoberta. Era minha banda favorita quando estava começando a aprender bateria, e isso me moldou completamente. Algumas das poucas pessoas que escreveram sobre a Gray Strawberries diziam que a cozinha era muito post-punk. Era verdade. Era algo que todos nós ouvíamos e gostávamos muito, e foi um ponto de união entre um pessoal que era completamente incompatível. Esse ainda é o único disco da lista lançado antes de eu nascer.

Ouça: “Disorder”:

Interpol – “Turn On The Bright Lights” (2002)
O clipe de “NYC” estreando no Lado B é algo que eu lembro como se fosse ontem. É simplista definir o Interpol como um meio termo entre Strokes e Joy Division. Mas foi isso que fez eu ficar vidrado naquilo. Talvez esse seja o disco que mais ouvi na vida. Ele começou a perder a cor no discman (DISCMAN CARA, PQP). As duas únicas coveres que a Gray tocou ao vivo, foram “The New” e “Roland”, bem no começo. Eu gosto demais desse disco, foi meu favorito durante muito tempo, e boto ele em qualquer lista dos melhores do ano 2000. Mas os rumos que a banda tomou no futuro fizeram com que eu não tenha mais que isso pra falar dele.

Ouça “NYC”:

Galaxie 500 – “On Fire” (1989)
Pouca gente deve ter o Galaxie 500 numa lista de dez discos mais importantes da sua vida. É uma banda única, conheço nada que soe como eles, e esse é o segundo baterista que mais me influencionou no jeito que eu toco. Damon Krukowski é um mestre em tocar devagar, muito devagar, e tem um timbre só dele. A forma como uma voz esganiçada e instrumentos baratos foram transformados em algo bacana com uma tonelada de reverb fez eu sonhar em trabalhar um dia com o Kramer, e encher de reverb tudo daqui pra frente. Tinha acabado de ser apresentado ao dreampop. Era também minha guinada final à “música de gueto com cinco fãs”. Gosto dos outros discos da lista, claro, mas, desse disco pra frente (o “Machina” pode ser incluso também), essa lista fala mais do presente do que do passado.

Ouça “Snowstorm”:

Slowdive – “Just For A Day” (1991)
Na verdade, boa parte das músicas do Slowdive que mais gosto vem dum EP antes disso, chamado “Blue Day”, mas botar um EP obscuro e irrelevante nos “10 melhores discos da vida” é algo muito metido a besta até pra mim. Esse foi meu primeiro CD da Galeria. Pra quem era do interior, e ouvia falar da Galeria do Rock como um paraíso aonde qualquer CD do mundo era encontrado, isso foi um marco. Escarafunchar as prateleiras sob os olhos de vendedores grossos e filhos da puta, mais ou menos que nem todo mundo que mora em São Paulo, aliás. Inesquecível. O Slowdive é dos maiores nomes do shoegaze o que mais foi importante na minha vida. Sim, mais que o MBV, bem mais. Pra falar a verdade hoje gosto mais do Ride. Mas o Slowdive é outra das coisas que apresentei empolgado pra todo mundo da minha banda e tentamos copiar muito, por muito tempo. Outra banda da qual fui pesquisar cada detalhe estúpido da vida dos integrantes e projeto paralelo. Troquei uns e-mails com o Simon Scott, o baterista, depois. Ver que o baterista da banda que eu mais gostava poderia ter depois um emprego comum, como bancário ou padeiro foi algo que mais me aliviou do que desanimou. Gosto muito de ver que eles também são gente.

Ouça “Catch The Breeze”:

Mew – “And A Glass Handed Kites” (2005)
Esse disco também é um marco: é o primeiro desses que foi ser exclusivamente digital na minha vida toda. Eu não tenho o “Unknown Pleasures”, mas tenho o “Closer”, o “Still”, o “Permanent” e uma porrada de outras coisas, de modo que tenho todas as músicas dele em CD de alguma forma. Quem cresceu pra música nos 2000 acompanhou a batalha entre o CD e o MP3 e a época onde se tinha ainda alguma dúvida se o CD ia acabar. Esse disco aconteceu pra mim quando da capitulação final do CD. O Mew é o décimo lugar na lista. Ganhou do “Takk”, do Sigur Rós, por pouco. É uma banda que eu gosto muito, a segunda que mais gosto hoje, que vejo muita personalidade dela. Eles fedem a Dinamarca, assim como o Sigur Rós é a representação sonora da Islândia. O interesse que eles despertaram por mim na Dinamarca fez eu ir pra Roskilde anos depois, em 2010, o que foi talvez a coisa mais legal que já fiz na vida, e que fez eu reavaliar meus planos por completo de novo. Muita coisa na minha vida ainda viria a acontecer na Dinamarca, e o Mew me lembra de todas elas. Outra lista dentro da lista: “Apocalypso”, “Zookeeper Boy” e “White Lips Kissed”. Mas a melhor música do Mew, “Comforting Sounds”, tá no disco anterior. Uma outra coisa é que todas músicas desse disco são emendadas, de forma a contar uma história (vários discos são assim, mas nesse, é feito com maestria), o que me inspirou a fazer isso no segundo disco da Gray.

Ouça “Apocalypso”:

The Twilight Sad – “Fourteen Autumns And Fifteen Winters” (2007)
Esse disco representa o presente, agora, ano de 2011. Escuto-o a dar com o pau desde que foi lançado, e já escutei mais, mas essa é a minha banda favorita hoje. Não mudaria nada nessa banda, nada mesmo, nem as letras, os nomes das músicas, talvez o nome da banda. Se montasse uma banda exatamente do jeito que quero, ficaria igual eles. Comecei a remodelar o jeito que tocava, vi que não conseguia bater tão forte quanto o baterista deles, passei a perseguir isso, e talvez a diferença seja vista na próxima banda que eu entrar. O tempo passou, e consegui vê-los, bem longe de casa. A única dessas bandas aqui que consegui olhar na cara deles, conversar, perguntar que time eles torcem, zoar esse time. Eu tremia. Eu era o mesmo babaca deslumbrado que seria se visse o Oasis quando pirralho. Tem coisas que não mudam. “That Summer I Have Become the Invisible Boy” é uma música que fala tanto de mim que eu não me veria mais nela se não tivesse escrito. E o moleque ainda tava vivo. Eles devem estar me achando um otário, devem falar entre si “lembra daquele espanhol (não falei que era brasileiro, só falei meu nome) babão que tava quase chorando e falava da gente como se fossemos os Beatles?”. Alguém escreveu uma review do show falando algo do tipo “foi tão bom que tinha um cara, sorrindo de orelha a orelha, completamente hipnotizado na minha frente”. Era eu, provavelmente. Depois de muito aprendizado, muita luta, muita frustração, o coração continuava tão apaixonado pela coisa quanto o do moleque fanático por Oasis em 1997, que achava que algum dia ia chegar a algo parecido. “James, que idade vocês tem?”. “Todo mundo tem por volta de 28.”. “Ainda dá pra mim então?”. “Sempre dá. Nunca é tarde.” E sorri. O ciclo nunca se fecha. Bola pra frente. Ainda dá.

Ouça: “That Summer, At Home I Had Become The Invisible Boy”:

Na edição anterior, “Os Discos da Vida: Labirinto“.

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Comentários

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6 comentários

  1. Ah Gray Strawberries! Já passei muitas tardes deixando as músicas da banda no loop (já falei isso com o Lucas e com o André! hehehe).

    Realmente adorei as descrições. Especialmente as do Luiz, que pelo visto tem mais ou menos a mesma idade que eu. Strokes não me diz nada, mas cacete! A sensação com Morning Glory do Oasis e Turn On The Bright Lights do Interpol é quase a mesma. No meu caso, como bom carioca, diria que o Morning Glory foi aquele álbum que me salvou de virar pagodeiro ou funkeiro, e sempre que escuto o Turn On… vem aquele cheirinho de last.fm fresco no ar como se fosse estofado de carro novo! haha

  2. to também nesse barco em que Oasis me salvou de virar pagodeiro ou funkeiro hahahaha
    comprei os 3 primeiros álbuns do Oasis de uma só vez praticamente, bons anos 90!
    e depois também me identifico com Strokes e Interpol e várias outras bandas indies que surgiram no começo dos anos 2000 e que tinham espaço na mtv de madrugada!

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