RESENHA: V.DIASZ – FORGIVENESS ROCK

Eu tentei (e até esbocei) uma resenha impessoal que tratasse de “Forgiveness Rock” da maneira que o novo lançamento de Vinícius Diasz merece. Acontece que a abordagem elevada que Vinícius relata sobre o que é efêmero me pegou demais. Como se a memória tentasse redesenhar instantes que já morreram, os episódios – que praticamente deixam de lado a objetividade narrativa – tentam descobrir novos acessos pra tudo o que é passado. “Sua memória não vai te ajudar”, afirma o músico em insistentes repetições que ganham profundidade à medida que os instrumentos trabalham em conjunto duma massa sonora (em “Sem Memória”).

“Caipira” é a primeira faixa do disco que desenha uma narrativa concreta. Nela, Diasz relata o que chama de “sua vida caipira”. Alguém abrindo os olhos ao amanhecer, o narrador que prepara o chá ou o café e o festejar pós pôr-do-sol: nesses relatos mais específicos a estrutura externa do mundo é apenas o que importa.

Em faixas como “Oi†ava Dor”, tem-se retalhos de diálogos que o músico não hesita em deixá-los inexplicáveis. Talvez, na concepção de Vinícius, explicar essas coisas são desnecessárias: os diálogos são capazes, eles próprios, de criar um contexto, pois – assim como em “Caipira” – o externo é suficiente.

O diálogo também ganha destaque lírico em “Ex-Amor”, em que Vinícius afirma que “chega de testes, eu não aguento mais”. Se nas canções até então eu tive a impressão de que o narrador estava à beira dum cansaço absoluto, nesta canção nós temos a confirmação. Quando ele pede o fim dos testes, no entanto, a vida lhe nega isso. “As coisas não são como queremos” e nisso acho que todos concordamos. Podem achar isso a afirmação dum lugar-comum, mas é através de lapsos autobiográficos que pode-se confirmar que o ponto de vista do músico é cuidadosamente construído.

Em “OFF” temos um sample duma entrevista que Vinícius fez pra “Alternativa B” (que anuncia a própria canção), e que termina com o lamento “agora é tarde demais”. São as recorrências sobre a impossibilidade de recuperar o tempo perdido que direcionam tematicamente as anotações musicais de Diasz. É escrevendo (em sentindo amplo: ou seja, desde as letras aos arranjos finais, intervenções sonoras e samples) que Vinícius monta um painel próprio cujo acesso é intrigante.

NOTA: 7,0
Lançamento: 10 de julho de 2017
Duração: 36 minutos e 54 segundos
Selo: Crooked Tree Records
Produção: Vinícius Dias

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