VÍDEO: CADU TENÓRIO – DESKTOP SKIES

O leitor mais atento perceberá que não há uma “Desktop Skies” listada no álbum duplo “Rimming Compilation”, que Cadu Tenório lançou em 2016 (ouça aqui na íntegra e leia a resenha).

É que o vídeo de vinte minutos e meio é uma compilação de vídeos de cinco temas do disco, três da parte “Liquid Sky” (“Pirease”, “Death In Midsummer” e “Enter The Void”), um da parte “Phantom Pain” (“Music For Airports (Airplanes, Hope And Sadness)”) e uma outra, a “10”, incluída naquilo que o artista chama de “Under Rimming Compilation”, o disco-sob-o-disco, que cabe ao ouvinte descobrir como chegar lá (“uma provocação à falta de atenção dos ouvintes de hoje”, brinca Cadu).

Tal como as músicas, o vídeo também se fragmenta em cinco partes, sendo a mais frenética e provocativa a primeira, de “Pirease”, com colagem absurda de imagens de sexo, animes, ginecologia, religião.

Cadu Tenório trata “Desktop Skies” como um curta-metragem: “é, de forma extremamente resumida, uma tentativa de criar um ciclo de vida e morte, catalogando e reorganizando, dentro do meu campo de visão, elementos comuns que circulam na rede, seja no íntimo ou não. No filme, é usado um imagético que vai do sacro ao profano. Pra ilustrar melhor a explicação, vale exemplificar David Lynch no processo de mergulhar na gramática visual do século XX, utilizando personagens clichês facilmente reconhecíveis por quase todos nós que fomos banhados e consumidos por Hollywood desde a infância. Ele utiliza disso pra contar suas histórias. Constrói narrativas a partir do que é considerado descartável no que consumimos à exaustão. É basicamente essa a intenção do ‘Desktop Skies’: dentro de um ambiente digital, podemos ver a morte de um monitor, e logo imagens do pós-vida digital, que imaginei ser ‘a vida’. É como se o elemento-chave pra absorver o vídeo fosse a ideia de que ele tentasse contar a vida e a morte de um personagem explorando a fundo o ‘pensamento coletivo atual’, a partir do lixo mais comumente consumido. A história é contada num plano bidimensional, na tela do computador, em linguagens comuns a ele”.

Cadu escolheu as cinco músicas específicas seguindo a ordem dos vídeos que vinha fazendo. Ele começou com a parte “Liquid Sky” do projeto, mandando “Cyberia (Digital Deathru)”, daí “Nozsa Wars” (veja aqui) e “Star” (veja aqui) e brecou, pra poder fazer “Desktop Skies”: “senti a necessidade de quebrar essa linearidade”, conta.

Ele explica ao Floga-se o motivo de se embrenhar no curta: “as oportunidades que tive pra falar do disco sempre foram colocando a ideia de narrativas que vão se construindo… Eu quis fazer um vídeo que funcionasse como um curta, uma narrativa complementar e que ao mesmo tempo funcionasse em conjunto com a subjetividade dos expectadores ouvintes. As cinco músicas escolhidas cumprem um arco dentro do disco, em principal as três primeiras: ‘Pirease’, com o ‘please don’t go’ dito por uma japonesa; ‘Death In Midsummer’, com um trecho do Yukio Mishima, mais precisamente do conto ‘Morte Em Pleno Verão’, que mexe muito comigo e que foi utilizada a tradução pro português, narrado pelo Google Tradutor em várias línguas, o que distorceu a mensagem a ponto de ser algo bem complexo de tirar; e ‘Enter The Void’, que assim como o filme do Gaspar Noé (‘Viagem Alucinante’, 2009), adapta o ‘P.O.V aos ouvidos’ (p.o.v. = point of view, ponto de vista) em lembranças que remetem ao sacro e à afetividade como uma ideia de pós-vida, mas junta tudo em um turbilhão só. E, por fim, no meu subjetivo, ‘Music For Airplanes’ e ’10’ representam o fim sem conflitos, uma certa calma”.

O resultado é mais uma extensão das possibilidades do disco. “Desktop Skies” é o “Rimming Compilation” continuando a se expandir. Pelo visto, ainda há muito a descobrir.

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