KRAFTWERK NO SONAR 2012 – COMO FOI

Um efeito óptico antigo. Uma música antiga. Uma banda antiga. As músicas apresentadas têm quase todas mais de vinte anos (incluindo do “Tour de France”, disco lançado em 2003, sobre uma ideia e composições de 1983), a banda é de 1970 e o 3D, bem, a estereoscopia data de 1838. Por que, então, tudo parece tão novo e refrescantemente legal? Os shows que o Kraftwerk resolveu fazer atualmente não têm nada de novo, mas continuam vibrantes, impressionantes e, agora, com a brincadeira do 3D, surpreendentes.

Qual a mágica?

Simplicidade pode ser a resposta. Por trás da capa de modernidade, num mundo altamente tecnológico, onde não nos cansamos de ficar surpresos com as inovações em bits e bytes, há um espetáculo da simplicidade, sem pirotecnias e invenções. O Kraftwerk faz uma música simples, que permanece quase inalterada desde 1970, salvo exceções de batidas mais aceleradas e sobrepostas, pra animar DJs e seus remixes, o que nem sempre cai bem.

O efeito em 3D, tão celebrado desde a (nova re)descoberta pelo cinema adolescente, ainda causa um efeito tão especial nas pessoas, que não dá pra imaginar como ninguém teve essa ideia antes.

Deu pra perceber que seria um show diferente desde a espera. Ao redor, aquele mar de gente com os óculos 3D recebidos na entrada do Sónar, no Parque de Exposições do Anhembi (veja o serviço aqui). Era um quadro estranho, bizarro até. Nossos pais (e avós) lembrariam de tal cena parecida nos cinemas dos anos 1950. Mas estamos em 2012, 11 de maio de 2012. Funcionava bem naquela época, funcionou bem hoje.

Logo no começo, com “The Robots”, as projeções capitaneadas por Stefan Pfaffe, incitaram aqueles risos e “oooh”s da plateia. Os robôs de terno vermelho são os mesmos. Ele só estão mais próximos e quase “te alcançam”. “Ja tvoi sluga / ja tvoi Rabotnik”, com o vocal robótico de Ralf Hütter (de 65 anos!), aparecem destacadas. Em “Spacelab”, na sequência do mesmo disco, “The Man-Machine”, de 1978, fazia satélites invadirem o espaço e voarem sobre a audiência. “Metropolis” faz o ritmo cair um pouco, pra “The Man-Machine” encerrar a sequência do disco de 1978 em alto nível.

“Numbers” e “Computer World” induzem a plateia a um balanço calmo e embora as músicas sejam brincadeiras com a globalização, a melodia faz muitos casais se aproximarem: o Kraftwerk se faz romântico, de certa forma.

O show se alonga um tanto pra quem não é iniciado. Sem maneirismos, o quarteto alemão se apoia apenas na sua música e nos efeitos em 3D. Não é uma música eletrônica pros padrões atuais. Não é batidão (apesar de “Boing Boom Tschak” ter inspirado um bocado de batidões), não é house, não é acid, não é trance, o Kraftwerk não se encaixa em nenhuma categoria – ele inspira categorias. Está claro que incomoda uma grande parcela da audiência, acostumada a aceleradas batidas dos DJs eletrônicos.

Mas os alemães seguem firmes na proposta e quem conhece a fundo o trabalho deles viu um show com muitos “hits” (se é que posso chamar assim) e com pouquíssimas ausências, passando por quase toda a carreira.

O show acabou dando margem à prova de duas coisas: o Kraftwerk já era e sempre vai ser moderno, mesmo vintage, e que não é preciso inventar muito em cima do palco.

Apesar dos horários não cumpridos (quase todos os shows atrasaram) e das filas enormes pra comprar ficha pros bares (quando vão aprender a organizar isso direito?), o Sónar 2012, com o Kraftwerk, principalmente com o Kraftwerk, cumpriu seu papel de um “Festival Internacional de Música Avançada e New Media Art”. O curioso é que a “música avançada” aqui tenha tido seu ponto alto em algo que já tem 40 anos, com tecnologia “das antigas”.

01. The Robots (“The Man-Machine”)
02. Spacelab (“The Man-Machine”)
03. Metropolis (“The Man-Machine”)
04. The Man-Machine (“The Man-Machine”)
05. Numbers (“Computer World”)
06. Computer World (“Computer World”)
07. Planet Of Visions (“Minimum-Maximum”)
08. Autobahn (“Autobahn”)
09. Tour De France (“Tour de France”)
10. Computer Love (“Computer World”)
11. Radioactivity (“Radio-Activity”)
12. Trans Europe Express (“Trans-Europe Express”)
13. Metal On Metal (“Trans-Europe Express”)
14. It’s More Fun to Compute (“Computer World”)
15. Aerodynamik (“Tour de France”)
16. Boing Boom Tschak (“Electric Café”)
17. Music Non Stop (“Electric Café”)

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Comentários

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4 comentários

  1. Fernando Augusto Lopes, só posso lhe dar meus parabéns, excelênte resenha amigo, melhor entre muito grande que diz fazer jornalismo por aí. Abraços!

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