MOGWAI NO SONAR 2012 – COMO FOI

De todo escritor se espera que ele evite clichês, mas no caso do show do Mogwai, temo que isso seja um tanto difícil. É uma tarefa árdua escapar de termos como catarse, sinfonia, estupendo, agressividade, impressionante, precisão e toda sorte de adjetivos e substantivos que seu conhecimento da língua portuguesa puder lhe dar.

Porque o show do Mogwai é tudo isso.

Nesse sábado, dia 12 de maio de 2012, eu finalmente pude ver um show dos escoceses. Não estive na primeira passagem deles por aqui, dez anos atrás, e queria tirar a limpo toda a adjetivação que ouvira associada à banda desde então. A expectativa era grande.

E não demorou muito pra ela ser correspondida. Na verdade, bastaram algumas notas, na abertura, com “White Noise”, que também abre o mais recente disco, “Hardcore Will Never Die, But You Will”, de 2011. As guitarras de John Cummings e Stuart Braithwaite começaram como determina a canção, leves, melódicas, sem muitos ruídos. Era a aclimatação, como se a banda fosse “fazendo a cama” (eis um clichê de minha parte), preparando os ouvidos da audiência, que “batia cabeça” de leve, se deixando hipnotizar (outro clichê).

A música cresce – e vai acontecer bastante desse recurso durante toda a uma hora de show (que começou com apenas dez, quinze minutos de atraso). Quando você acha que está se adequando àquele som, o Mogwai sobe o volume, aciona um pedal ou outro e seus ouvidos recebem um estrondo de ruídos, uma muralha de distorção (“muralha”, outro clichê) que se não incomoda, te tira do estado de absorção que a própria canção de colocou.

Porque o Mogwai é simpático, faz obras até certo ponto de fácil assimilação, mas provoca, seu volume atua como uma pesada mão a sentar espalmada na cara da plateia. E provoca o tempo inteiro. Há ruídos no meio da calmaria e calmaria no meio do liquidificador de distorção. Não dá pra se acostumar e achar que “já entendeu do que se trata”. O quinteto vai surpreender sempre.

Mas o tapa na cara é recebido com prazer (não masoquista, mas aquele que te desperta pra você não perder o melhor). Altas doses de ruído vêm e vão e quando você percebe, mesmo aqueles que não conhecem a fundo a obra da banda estão sendo levados da maneira que a banda quer – ao delírio.

É do disco mais recente que a banda recebe da plateia (que abarrotou o auditório do Parque das Exposições do Anhembi) a melhor resposta. Foram quatro: “White Noise”, “Rano Pano”, “Mexican Grand Prix” e “How To Be A Werewolf”. Essa última ganhou uma roupagem, acredite, thomyorkiana, pra estimular dancinhas mais agudas, bem como “2 Rights Make 1 Wrong”, com os vocais-não-vocais de Barry Burns.

E a brilhante “Mogwai Fear Satan”, literalmente uma sinfonia (outro clichê), que se mostra abundante em todos os adjetivos.

Há pausas longas entre uma e outra canção, talvez um tempo pra plateia recobrar os sentidos e poder mergulhar na próxima. Braithwaite ainda agradece ao microfone, há trocas de guitarras (muitas), mas a plateia segue estupefata. O torpor, a gente ainda não sabia, iria durar pra bem além do fim do show.

As projeções ao fundo e o feliz jogo de luz ajudaram a aumentar o clima. A banda, enfim, ficou contagiada. Tocou mais alto do parecia poder tocar (um ou dois falantes do lado direito do palco foram pro beleléu) e esticou a apresentação pra além do que a organização do Sónar havia combinado e permitido. O resultado foi uma rusga que o baterista Martin Bulloch expôs no Twitter (“The stage manager in Sao Paulo has threatened to fuck us up in Rio because we ran over time. I look forward to it…….Immensely”), mas que pra audiência foi só um tanto a mais de minutos de delírio.

Enfim, esse show do Mogwai comprovou pra mim aquela quantidade de termos elogiosos que venho ouvindo há dez anos. Entre eles, talvez o mais impressionante seja a capacidade da banda em não se afundar nos tantos clichês que a música pop ou que o pós-rock apresentam. Esses, os clichês, eles deixam pro meu texto.

Setlist (cortesia de Elson Barbosa):

01. White Noise (“Hardcore Will Never Die, But You Will”)
02. Rano Pano (“Hardcore Will Never Die, But You Will”)
03. I’m Jim Morrison, I’m Dead (“The Hawk Is Howling”)
04. Stop Coming To My House (“Happy Songs For Happy People”)
05. How To Be A Werewolf (“Hardcore Will Never Die, But You Will”)
06. Mexican Grand Prix (“Hardcore Will Never Die, But You Will”)
07. Hunted By A Freak (“Happy Songs For Happy People”)
08. Mogwai Fear Satan (“Mogwai Young Team”)
09. 2 Rights Make 1 Wrong (“Rock Action”)
10. Batcat (“The Hawk Is Howling”)

Veja “Rano Pano”:

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Comentários

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5 comentários

  1. O show foi muito bom mesmo a unica coisa que foi meio chata no meio do show foi em algum momento ter escutado um som muito agudo ( algum problema técnico) e certamente deve ter sido nesse momento que as caixas de som foi para o beleléu com foi sitado na resenha, fora isso a parte do show ter um tempo maior que o esperado foi muito bom mesmo.

  2. […] O que salvou “maio” e transformou o mês numa das melhores faixas do ano foi o Sónar São Paulo. Um festival curioso porque junta desde hipsters blasés ou afetados a intelectualóides e maurícios e patrícias que só querem desfilar, a fãs de música, num espaço bem estruturado e organizado. Teve pra todos os gostos, com destaque efusivos às apresentaç?es do Kraftwerk e do Mogwai. […]

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