UPPSALA SOLEMNE – LOGO DE MANHÃ EP

“A Fúria Do Vento”, o EP anterior, foi lançado em 2011 (leia e ouça aqui). Seis anos depois, enfim, a dupla brasileira-radicada-na-Argentina Uppsala Solemne entrega “Logo De Manhã”, o terceiro EP, com mais quatro canções – mas o Uppsala tem canções pra mais um EP, que a banda não sabe se vai de fato lançar.

“Logo De Manhã”, que foi escrita e executada pela dupla formada por Cristiane Miranda e Leonardo Fleck, e produzida e gravada no mesmo estúdio do trabalho anterior, o Juli Records, em Buenos Aires (pela banda e pelo engenheiro de som e dono do estúdio, Adolfo Schmitz), onde o duo morava até há pouco tempo.

“Voltamos pro Brasil, pelo menos até o final deste ano (de 2017). Uns meses sabáticos”, se diverte Leonardo Fleck, em conversa rápida com o Floga-se. “Ficaremos um tempo entre Novo Hamburgo-São Paulo-Buenos Aires. Sem compromissos profissionais, apenas tocando projetos pessoais… Diria que (o EP) é brutalmente honesto em representar aquilo que de fato é: uma despedida. Mas uma despedida serena, tranquila. Fechamos um longo capítulo ininterrompido de onze anos em Buenos Aires e tudo o que isto implicou nas nossas vidas”, diz.

A obra abre com a intensa “Flor De Inverno Que Levo No Negrume Do Peito”, com cordas belíssimas e uma poesia simples, mas contundente, sobre o que pode ser a dor (“Flor de inverno / que levo / no negrume do peito / eu te entrego / o que de melhor tenho”). Parece que são duas ou três músicas em uma, numa certa complexidade aparente, que se contrapõe com a real simplicidade poética.

Ou como explicar a profundidade da letra de “Quero Estar” com pouquíssimos versos – “Quero estar / junto a ti / ainda que / o sol se esconda / e as nuvens sejam / gris”?

O Uppsala Solemne parece buscar nos momentos de solidão o seu encantamento. Solidão solitária ou em casal ou em grupo ou em sociedade ou só com a natureza. A música expressa isso. Podem ser momentos fugazes, que as notas procuram expandir e fazer perdurar. Há quem note algo de “religioso” nisso.

“‘Logo De Manhã’ é um hino (religioso – Fleck refere-se à música de louvor mesmo). Não tenho absolutamente nenhuma relação com a igreja, aliás, tenho e não é boa, mas essa frase ‘Logo de Manhã’ ficou martelando por tanto tempo e acabamos achando que fazia sentido. pela poesia dela. Combinava com a foto que escolhemos, tirada numa manhã (da capa). A primeira vez que ouvi foi tocado pela Cris. Na voz dela e ao piano faz sentido (risos). E foi numa manhã de domingo. São essas pequenas circunstâncias da vida que marcam a um, mas que em si não representam nada a mais ninguém. Acho que cada um vai colecionando esses momentos ao longo do tempo, né? A cancão em si não é legal, mas naquele contexto foi bonito”, explica.

“Volta” (que é da época do EP anterior) reforça esse sentido: “Ela se jogou / na água fria / Um mergulho fundo / na agonia / Desfaça o luto / da tua vida / E volta enquanto é tempo / pra despedida”. Amparada por um instrumental que bem poderia estar inserido num culto dominical, com sua poesia de apoio, de “ombro amigo”.

O EP fecha com “Green Shore”, que apesar do título em inglês, tem uma letra em italiano, de alguém que deixa seu passado, enfim, pra trás – mas que curiosamente é retirada palavra por palavra de uma comédia italiana, “Viva A Liberdade”, de Roberto Andò (2013), numa poesia dita pelo político aos preocupados companheiros do partido diante de uma crise. Era a solidão expressa numa situação extrema.

Ouça o EP:

As despedidas a que Fleck se refere são as despedidas deles, mas isso não impede que sejam quaisquer despedidas que massacram e atormentam o coração de quem ouve. Se as cordas acalmam e a poesia traz alento, há algo na música de “Logo De Manhã” que impede o ouvinte de se aquietar totalmente. Há uma provocação, talvez. Um despertar pro novo.

Há despedidas que não são pra sempre. São rituais de passagem.

1. Flor De Inverno Que Levo No Negrume Do Peito
2. Quero Estar
3. Volta
4. Green Shore

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