RESENHA: O ANO DE 2014

O dito popular resume bem como 2014 mexeu com as emoções: “costumo resistir a tudo, menos às tentações”.

De fato, foi um ano em que a maior das tentações, a paixão (paixão pelo discurso, pela lógica, do futebol à política, passando pela música), se mostrou o caminho pra ruína emocional. Quem mergulhou de cabeça nos extremos beirou a falência social ou humana, se o leitor me permite tal exagero.

Logo em janeiro, o verão arrasador massacrou os brasileiros com temperaturas amazônicas. Foram pelo menos três semanas em que nem mesmo a paixão pela estação, pela praia, pelos trópicos, ou até mesmo pela cerveja resistiu ao sufocante estouro do termômetro.

Enquanto ano após ano o verão é marcado por chuvas torrenciais e tragédias corriqueiras por conta delas, em 2014 foi o sol de fritar cabeças que marcou o começo desses doze meses.

E antes fosse a chuva, como se sabe e como veremos depois.

Um início de ano sem tragédias não indica calmarias, pelo contrário. Foi um ano atípico e acalorado. Um bom exemplo? Os rolezinhos que chamaram a atenção na cidade de São Paulo, após chacoalharem Belo Horizonte e vários centros de compras na capital paulista, no final de 2013.

Jovens da periferia combinavam pra se encontrar em shopping centers pra ouvir música, pequerar, zoar, ou, como se espera, ser jovens. Mas a direita paulista, sempre mais à direita do que a média, tratou de rotular todos eles de marginais. Já a esquerda viu ali uma mensagem social, luta de classes, essas coisas. O tempo passou, o assunto esfriou e ninguém aprendeu nada com isso, a não ser o fato de que usaram uma ação natural de uma determinada faixa etária pra tentar embasar argumentos de assuntos mais amplos e ampliar a questão “direita x esquerda”. Ninguém deu o braço a torcer de que não eram nem marginais, tampouco ativistas.

O debate político se antecipava. Mas ninguém imaginaria o que viria no segundo semestre.

Muito menos o que aconteceu antes. Paixão de quase todo brasileiro, a Copa do Mundo finalmente aconteceu no Brasil. Sete anos depois do anúncio oficial pela FIFA, o grande ano chegou.

Junto com ele, o debate apaixonado. A tentação de não participar dele foi por terra, entre hashtags “imagina na Copa”, “não vai ter Copa” e “tá tendo muita Copa”.

O brasileiro não acreditou que o país pudesse fazer menos do que passar vergonha na organização de um evento desse porte. Mas a sexta economia do mundo tem grana pra bancar uma extravagância dessas, entre prováveis superfaturamentos (ainda não provados), estádios terminados nos acréscimos do segundo tempo, brigas com os gringos da FIFA, obras prometidas e não cumpridas, e estádios que virariam e viraram elefantes brancos – tudo em detrimento de uma necessidade maior, que é diminuir a desigualdade social.

Teria sido uma boa gastar esse trinta e tantos bilhões em estádios, mais outras centenas em obras que sequer foram entregues ainda, enquanto há áreas sociais capengas? Bem… Sim e não.

“Sim”, porque é, como se diz, “dinheiro de pinga” diante da exposição positiva que o Brasil teve mundo afora. Foi talvez a melhor Copa do Mundo em muito tempo. A mais emocionante, a mais alegre, a mais positiva. Os gringos adoraram, os brasileiros que compraram a ideia se divertiram nos estádios e nas ruas (principalmente da Vila Madalena, bairro mais boêmio de São Paulo, que viveu um carnaval fora de época) e a imprensa se esbaldou.

E “não” porque por trás disso tudo, nos bastidores, houve briga política, há suspeita de desvios, superfaturamentos, e o confronto ideológico que colocou a presidente numa situação estapafúrdia, com um bando de bem nascidos mal educados vaiando-a e xingando-a como se isso fosse sensato, democrático ou mesmo civilizado.

De imediato, das vaias, nasceu mais um acalorado debate político. O país fervilhava.

Os protestos de 2013 tentaram se reerguer assim que o evento começou. Houve um confronto ou outro, mas nada tão acachapante. A bola unia todo mundo, até quem não costuma cair na tentação do futebol. Éramos mais uma vez todos brasileiros com um só objetivo, independente dos desmandos e desvios de quem organizou tudo, seja governo, seja CBF, seja FIFA.

Dentro de campo, uma delícia de Copa. Os grandes iam ruindo, Espanha tomando de cinco da Holanda, Itália e Inglaterra dando adeus, e Brasil e Argentina, aos trancos e barrancos, avançando. Só jogão, até quando os jogos eram ruins. Emoção pra todo lado. Golaços. Até hoje a Copa dá saudade. Não houve vergonha, não houve problemas maiores. O brasileiro, afinal, desse jeito todo desorganizado, mostrou-se capaz.

Mas só fora de campo. A festa linda se tornou um azedume pra torcida local. Na semifinal, a um jogo apenas de ter a possibilidade de consertar a tragédia do Maracanã de 1950, o timinho de Felipão e da CBF ruiu.

Nas quartas, diante da Colômbia, Neymar foi quebrado por uma entrada atabalhoada de um adversário. De repente, vimos que a Seleção era só ele é mais ninguém. Aquele “sangue nos olhos” representado pelo zagueiro David Luiz era só febre, calor, marketing, não era talento. O talento de fato estava quebrado, e a nação, preocupada.

Na Copa de tantos gols, da melhor média artilheira da história, o maior números de vezes que a bola balançou as redes foi no Brasil e Alemanha. Sete vezes mais pros alemães. Sete a um.

O placar acachapante, que calou bares, casas, alegrias, vaias e choros, parecia não ter explicação. Só dor. Mas tinha explicação, sim. Não a explicação que a imprensa tratou de dar logo após o título alemão, no Maracanã, em cima da Argentina de Messi: a organização e determinação.

Foi isso também, mas falou mais alto a nossa incapacidade, a nossa crença de achar que o talento natural resolve tudo. Não resolve. Com uma CBF canalha, que não investe na formação, que junto com a Globo, parceira de negócios e por isso acrítica, só pensa em grana e é presidida por alguém ligado fortemente à ditadura militar, não podia dar outra coisa. O atraso domina.

A Alemanha teve méritos, se divertiu no Brasil, encantou os brasileiros e as redes sociais, mas massacrou um time fadado a ser massacrado uma hora ou outra. Ótimo que o destino tenha reservado essa tragédia pro nosso teto. Fica mais contundente.

Embora uma contundência inútil. Semanas depois da tragédia, a CBF resolveu mostrar que está alguns passos atrás da lógica e chamou Dunga pra ser o “novo” treinador. A tragédia continua.

Pelo menos, no futebol, os mineiros riem à toa, embora a hecatombe da Seleção tenha acontecido no renovado Mineirão. É que o Cruzeiro, com méritos e bastante tranquilidade, conseguiu o bicampeonato nacional; e o Atlético, o título da Copa do Brasil, sobre o maior rival, numa final histórica.

Em dezembro, o Brasil vibrou com o título mundial de surfe, de Gabriel Medina, um feito inédito. Uma boa compensação.

Se em Copas no Brasil, a Seleção continua na seca, os paulistas seguem literalmente com a garganta seca. Em 2014, faltou água. Por incompetência administrativa dos últimos cinco governos paulistas e da empresa de águas local, a Sabesp semiprivatizada, que não reduziu perdas nem aumentou investimentos, só pesando em dividir lucro entre os acionistas, sobrou culpa pra São Pedro que não molhou os reservatórios o suficiente.

O Brasil tomou conhecimento que essas represas possuem um tal “volume morto” (em alguns casos, três volumes mortos), cuja qualidade da água é suspeita, mas que serviram direitinho pra reeleger o governador.

Rezou-se pra chuva, que ainda não veio em quantidade esperada, e agora reza-se pra que em 2015 a torneira não seque de vez. O mais otimista acha que em março não vai ter jeito: vai ter racionamento oficial – porque o extraoficial começou pra muita gente em março de 2014.

Foi, porém, num dia de chuva que morreu tragicamente e pela primeira vez na história do Brasil, um candidato à presidência da República. Eduardo Campos deixou todos embasbacados. Morte prematura, no auge da carreira política, num acidente de avião, em agosto.

Abriu espaço pra Marina Silva fazer o que o próprio Eduardo não parecia conseguir, assustar o PT de Dilma e o PSDB de Aécio Neves nas pesquisas. Ela subiu a primeiro e começou a tomar bordoada, ao mostrar-se indecisa em vários pontos do programa de governo. No segundo turno, acabou dando pela sexta vez seguida a polarização PT x PSDB.

Foi uma eleição pra estômagos fortes, principalmente pra quem acompanhou na redes sociais. A classe média do Brasil, sempre alguns passos atrás no basal político mundial, enxergava nos dois candidatos finalistas diferenças enormes. Elas existiam, de fato, mas só nas visões sociais. Na econômica, a cartilha segue mais ou menos a mesma e os ricos de verdade não têm o que reclamar, já que esses sempre estarão no poder, obviamente.

O acirramento político se deu em capas vis de revista, manchetes canalhas, e brigas acaloradas entre amigos nas redes sociais. Todo mundo se decepcionou um pouco com aquele camarada de bar que se mostrou mais reaça ou mais esquerdinha do que se fazia notar.

Foi um ano de extremos no debate político, o ano da intolerância com o próximo.

Os debates na televisão se mostraram rasos, bate-boca nível reality show. A turba de eleitores de cada lado se animava e ampliava o bate-boca.

Na hora da apuração, o momento mais emocionante do ano. Mais do que o 7 a 1. Por conta do horário de verão, o Acre, que normalmente está a duas horas do horário de Brasília, ficou a três e nenhum resultado a presidência foi divulgado até que as urnas se fechassem no estado.

Eram oito da noite, nervos em frangalhos, quando saiu a primeira parcial. Dilma na frente. Por pouco. Antes disso, Aécio comemorava em casa, achando que levaria. O resultado foi apertado, o mais apertado da história. Pouco mais da metade dos eleitores comemorou. Pouco menos da metade, chiou, se emputeceu.

Alguns poucos ficaram tão arvorados na insanidade que se esqueceram que a democracia se vale da escolha da maioria (nem que sejam 50% mais um único voto – e no caso foram milhões de votos a mais pra Dilma), e partiram pras ruas pra pedir desde a recontagem dos votos até o impedimento da diplomação da eleita.

Se faltou civilidade e democracia a alguns políticos da oposição, também faltou a alguns nomes que se notabilizaram em 2014 pelo desvario, principalmente Lobão, o ex-doidão, que se tornou o maior símbolo da cegueira nacional. Chegou a prometer que deixaria o país se Dilma ganhasse. Pois bem, desistiu e virou piada.

O mote da discussão rasa era que o PT está se articulando esse tempo todo pra transformar o Brasil “numa Cuba” ou “numa Venezuela”. As mentes atrasadas e a cegueira ainda deram a cara em 2014, como se vê.

Mas o partido que ganhou democraticamente o direito de exercer mais quatro anos de administração federal é um dos que está envolto no grande escândalo de corrupção de 2014, o da Petrobras, que começou, dizem os denunciantes, em 1998, na administração de outro partido, mas que todo brasileiro sabe remonta há décadas e décadas, com brasões e generais. A coisa fede e não há partido imune à fedentina. O que todos devemos fazer é torcer pra limpeza ser geral.

O racha PT x antipetismo se tornou tão forte e nublador de lógica, que foi preciso a história se mexer pra indicar que essas mentes necessitam se reciclar. Dezembro reservou um fato histórico, pra atualizar os livros estudantis e dar um nó nos idiotas. Os Estados Unidos da América se reaproximaram diplomaticamente de Cuba e acenam com a queda total do embargo econômico. Perceberam a bobagem que cometeram por décadas, embora os problemas de Cuba não morassem só no embargo.

“Somos todos americanos”, disse Barack Obama, numa frase lapidar.

Palmas pra Obama e sua turma. Palmas pra Raul Castro e sua flexibilização. Mas palmas mesmo é pro Papa Francisco, o líder da Igreja Católica mais moderno da história. Foi ele o pivô dessa reaproximação.

Além disso, ele se mostrou incomodado com a forma predatória que o capital avança, deu provas de que pensa de maneira socialista e moderna ao mesmo tempo, e ainda disse que não há problemas em pessoas do mesmo sexo se unirem. E, mais importante, pra tirar a Igreja e seus bilhões de seguidores do obscurantismo, disse que a Teoria da Evolução é válida e que ela não vai contra Deus. Melhor Papa.

Mas nem tudo foi reconciliação. Na Rússia, o maluco do Vladimir Putin briga com a Ucrânia por um pedaço de terra onde se fala russo, onde se inventou um plebiscito não reconhecido mundialmente e onde os nervos estão explodindo.

Seria um problema interno não fosse o fato de que há radicais tão idiotas a ponto de explodirem um avião comercial em pleno ar. Justamente o que aconteceu em julho, quando um jato da Malasyan Airlines que ia da Holanda pra Kuala Lumpur foi abatido, matando as 288 pessoas a bordo. Até agora, ninguém foi responsabilizado oficialmente.

Mas aviões caíram também por outros motivos e 2014 foi talvez o ano que mais acidentes aéreos de grande porte aconteceram. Em março, um outro voo da Malasyan desapareceu. Havia 239 pessoas a bordo. Nunca foram sequer encontradas.

Julho foi trágico nesse quesito. Além do voo abatido pelos ucranianos, dia 23 um voo da TransAsia Airways fez um pouso forçado em Taiwan. Das 58 pessoas no avião, só dez sobreviveram. Dia 24, o Air Algérie 5017, que ia de Burkina Fasso a Argel, na Argélia, caiu com 118 pessoas a bordo. Ninguém sobreviveu.

Em 10 de agosto, um Antonov de fabricação iraniana, caiu logo após a decolagem, em Teerã. Havia 48 pessoas a bordo, só nove viveram pra contar história.

Em 28 de dezembro, no ocaso do ano, o voo AirAsia 8501, um moderno Airbus A320-200, sumiu como sumiu o da Malasya em março, indo da Indonésia pra Cingapura, com 162 pessoas.

Apesar de tanta tristeza e tragédia, a melhor música do ano, de longe, sem concorrências, foi “Happy”, de Pharrell Williams, com um baita clipe divertido:

Mais de meio bilhão de acessos no YouTube, um par de comerciais de tevê como trilha, e mais de onze milhões de cópias vendidas, nos formatos digital e físico.

A canção ainda quase ganhou um Oscar. Trilha do filme “Meu Malvado Favorito 2” (“Despicable Me 2”, direção de Pierre Coffin e Chris Renaud), acabou preterida pelo maior sucesso em vendas de 2014, a trilha de “Frozen – Uma Aventura Congelante” (“Frozen”, direção de Chris Buck e Jennifer Lee), com “Let It Go”, que você obviamente já ouviu alguma criança cantando.

A trilha de “Frozen” era o único álbum físico que bateu a marca de um milhão de cópias físicas vendidas. Até o fenômeno “1989”, de Taylor Swift.

Segundo o Mediatraffic, a trilha sonora infantil chegou a vender, em todos os formatos, 7.057.000 de cópias, enquanto Swift encerrou o ano (dia 27/12) com 4.619.000, e o outro fenômeno, Ed Sheeran, com seu “X”, com 3.486.000. O top cinco fecha com Coldplay, com “Ghost Stories” e suas 3.037.000 de unidades vendidas, e Sam Smith, “In The Lonely Hour”, com 2.879.000.

Discos lançados em 2013 seguiram vendendo bem. “Beyoncé”, lançado no fechar de 2013, de surpresa, de modo que é praticamente um disco de 2014, vendeu 2.289.000 cópias; “AM”, do Arctic Monkeys, 1.187.000 cópias; e o grande sucesso de 2013, “Random Access Memories”, chegou a 844.000 unidades. Veja a lista completa com os quarenta mais vendidos, aqui.

Nessa lista, há ainda o disco novo do Pink Floyd, “The Endless River”, que explorou ao máximo o nome da lenda e a paciência dos fãs, vendendo 1.717.000 de cópias. E há o disco que mais levantou discussões, “Sonic Highways”, do Foo Fighters: vendeu 925.000 unidades, no que André Barcinski chamou oportunamente de “mal necessário”, por conta do documentário-irmão.

Ouça na íntegra:

As vendas (até surpreendentes) de Taylor Swift foram o motivo dela ter escolhido desistir de figurar no cast do Spotify, o que causou intensa discussão.

Aliás, 2014 foi o ano da chegada do Spotify ao Brasil. Juntou-se ao Rdio e ao Deezer pra disputar um mercado que em 2015 vai ter o Google Play como forte concorrente. Mas ainda gera desconfiança com relação ao pagamento dos artistas. Pro consumidor, é uma beleza; pro artista, nem tanto.

No caso do Pandora, nos Esteites, o megasucesso “Happy”, de Pharrell Williams, foi executado mais de quarenta milhões de vezes e rendeu ao artista apenas dois mil e setecentos dólares. Você leu certo, foi essa ninharia… Imagine, daí, o que acontece com artistas menores.

O Pense Ou Dance aqui do Floga-se discutiu o espinhoso assunto neste artigo. Não há consenso, é claro.

E discutiu mais. Remodelou o conceito de “cauda longa” pra falar de nanomercados; falou sobre a “música soterrada brasileira”; analisou festivais aqui e lá fora (nesse artigo e nesse outro); falou sobre o “medo do sucesso”; tentou buscar um caminho pra viabilizar o subterrâneo da música; procurou entender os motivos pelos quais a gente ainda separa música brasileira do resto; e, na cola de grandes entrevistados no podcast O Resto É Ruído (ouça aqui), como Lúcio Ribeiro e André Forastieri, discutiu, respectivamente, o preço de ingressos de shows gringos no Brasil, e se o rock realmente morreu ou não (mais abaixo, uma boa prova de que…).

Além disso, o Floga-se, pela primeira vez, realizou uma votação de melhores do ano com votação dos leitores. Foi uma experiência e tanto.

Em 2014, o site também cobriu os principais shows e festivais, como o Lollapalooza no Autódromo de Interlagos, o Sub Pop Festival, o Exhale The Sound, e o Cultura Inglesa; e alguns gringos, como o Off Festival, na Polônia, e o Primavera Fauna, no Chile. Sem contar a tiro no pé que foi o Converse Rubber Tracks, uma aula de como não promover uma marca.

No Brasil, nada mudou em termos de preferência do público. Pra variar, o sertanejo pop dominou o gosto da maioria. A música mais executada em 2014 foi “Domingo De Manhã”, de Marcos & Belutti.

Em matéria elucidativa, o G1 dá o cenário: “o rock chegou a ter 32 músicas entre as 100 mais tocadas em 2004. Desde então vem caindo. Em 2013, o estilo saiu pela primeira vez do top 30 (incluindo faixas brasileiras e internacionais). Em 2014, os melhores resultados foram de bandas estrangeiras. A posição de rock mais alta foi ‘Pompeii’, do grupo britânico Bastille, em 50º. De rock brasileiro, houve apenas a 81ª posição do Skank e a 98ª de ‘Waiting for you’, do Jota Quest”.

O espaço reservado pro… err… rock (pigarro) ficou reservado pra banda Malta, vencedora do concurso televisivo “Superstars”, da Rede Globo. De imediato, disco pela Som Livre e na trilha de novela. Nem isso garantiu um estouro de vendas – a não ser artificial. A banda Malta virou piada entre os críticos de música, aqueles que são, digamos, “mais sérios”.

Porque a Rede Globo olha pra onde está o público, a massa, é disso que ela vive. Tanto que sua principal revista semanal, o “Fantástico”, colocou Michel Teló pra tocar e entrevistar ídolos de vendas sertanejos. Nada de guitarras, distorções e, vai lá, “atitude”.

Se o rock morreu no ideário do público, 2014 também ficou marcado como o ano que teve as mortes mais impactantes – ou pelo menos passou essa impressão. Veja a lista das principais perdas (em ordem alfabética do primeiro nome):

Adib Jatene (médico), Alfredo Di Stefano (jogador de futebol), Andrea De Cesaris (piloto de corrida), Antônio Ermírio de Moraes (empresário), Ariano Suassuna (escritor), Ariel Sharon (político israelense), Armando Marques (polêmico juiz de futebol), Assis e Washington (o Casal 20 do futebol), Bellini (capitão da Seleção de 1958), Bob Hoskins (ator), Bobby Womack (músico), Charlie Haden (músico), Dr. Osmar de Oliveira (médico e comentarista esportivo), Eduardo Campos (político), Eduardo Coutinho (cineasta), Eli Wallach (ator), Eusébio (maior jogador português de futebol), Fausto Fanti (comediante), Fernandão (jogador de futebol), Frankie Knuckles (DJ e produtor), Gabriel Garcia Marques (escritor), Glenn Cornick (músico), Gustavo Cerati (músico), H.R. Gier (artista plástico), Harold Ramis (ator e diretor de cinema), Hilda Maia Valentim (a Hilda Furacão), Hugo Carvana (ator e diretor de cinema), Ian McLagan (músico), Ivan Junqueira (jornalista e poeta), Jack Bruce (músico), Jay Adams (esqueitista estadunidense), Joe Cocker (músico), Joan Rivers (atriz e comediante), João Ubaldo Ribeiro (escritor), John Holt (músico), Johnny Winter (músico), José Wilker (ator), Lauren Bacall (atriz), Leandro Konder (filósofo), Lori Sandri (técnico de futebol), Luciano do Valle (narrador e jornalista), Mãe Dinah (figura folclórica), Manoel de Barros (poeta), Márcio Thomaz Bastos (jurista), Marinho Chagas (jogador de futebol), Mário Travaglini (treinador de futebol), Max Nunes (escritor e diretor), Menahem Golan (produtor de cinema), Mickey Rooney (ator), Mike Nichols (diretor de cinema), Nadine Gordimer (escritora), Nelson Ned (músico), Oberdan Cattani (goleiro), Orkut (a rede social), Oscar De La Renta (estilista), Paco de Lucia (músico), Paul Mazursky (diretor de cinema), Paulo Goulart (ator), Philip Seymour Hoffman (ator), Plínio de Arruda Sampaio (político), Richard Attenborough (ator e diretor de cinema), Robert Throb Young (músico), Roberto Bolaños (comediante), Robin Williams (ator), Rubem Alves (escritor), Samuel Klein (empresário), Scott Asheton (músico), Sérgio Rodrigues (designer) Sid Caesar (ator), Tommy Ramone (músico), Vange Leonel (música), Virna Lisi (atriz).

O ano que vem a seguir promete ser menos agitado. Eleições e Olimpíadas só em 2016. É a calmaria que sucede a tormenta e que precede a nova tormenta. Ou não: pode ser a própria tormenta em si. Se for nos subterrâneos da música, diariamente o Floga-se entrará no olho do furacão relatando tudo. Caso contrário, se extrapolar pra superfície, pro nosso cotidiano, como foi em 2014, a torcida é pra chegarmos vivos e sãos até o fim de mais uma jornada anual. Porque é emocionante e tentador participar da história sendo escrita.

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