RESENHA: O ANO DE 2016

Há um ano, eu escrevia na resenha sobre 2015 que aquele era um 2014 que não havia acabado, que por sua vez era um 2013 que não havia se findado. Eu tinha esperanças que 2016 pusesse fim naquela loucura insana, que arrastava o país pro buraco político e, consequentemente, econômico. Não deu: 2016 foi o pior ano político brasileiro desde 1964, quando os militares tomaram à força o governo eleito pelo povo. Agora, um parlamentarismo fajuto e midiático é que cumpriu o papel.

Mas isso só aconteceu definitivamente em 31 de agosto. Antes, muita coisa rolou. A começar pelo dia 1º de janeiro, quando entrou em vigor, em definitivo, o “Acordo Ortográfico de 1990”, pra unificar a língua portuguesa em sete países onde ela é idioma oficial (a íntegra do acordo você pode ler aqui) – embora haja controvérsias quanto a isso.

Três atentados terroristas acontecem em janeiro: dia 12, em Istambul (11 mortos); dia 14, em Jacarta (17 mortos); dia 15, em Ouagadougou (30 mortos). Em fevereiro, dia 17, rolou mais um em Ancara (28 mortos). Em 3 de julho, o mais letal: em Bagdá, com 143 mortos. Mas foram outros três que ganharam as manchetes: dia 22 de março, no aeroporto e metrô de Bruxelas (35 mortos); dia 28 de junho, no aeroporto de Istambul (42 mortos); e no Dia da Bastilha, em 14 de julho, em Nice, um xarope avançou com um caminhão no meio da multidão, matando quem estivesse pela frente. O mundo percebeu mais uma vez, depois do 11 de setembro, que não eram necessárias armas de fogo pro terror se fazer presente.

Caso semelhante aconteceu em dezembro, em Berlim, quando outro maluco avançou com um caminhão sobre a multidão e matou doze pessoas, no mesmo dia em que o embaixador russo na Turquia, Andrei Karlov, foi assassinado, no mais grave ato internacional do ano, com vídeo e tudo.

Vale destacar ainda o atentado homofóbico ocorrido nos Esteites. Uma boate gay em Orlando acabou com cerca de 50 mortos e 53 feridos.

Apesar de tudo isso, a vida seguiu com certa tranquilidade na área do pão e circo. A Império da Casa Verde foi campeã do carnaval de São Paulo, depois de dez anos. No Rio, deu Mangueira, graças à homenagem a Maria Bathânia. No Oscar, deu “Spotlight – Segredos Revelados” como o Melhor Filme, enquanto Leonardo DiCaprio finalmente levou o prêmio de Melhor Ator, por “O Regresso”. Ennio Morricone também foi finalmente coroado, com sua trilha pro “Os Oito Odiados”, de Quentin Tarantino. No Brasil, o incrível “Que Horas Ela Volta?” não chegou nem a concorrer ao Oscar, apesar de ter feito boa carreira internacional.

O filme brasileiro que mais fez bonito em 2016 foi “Aquarius”, com Sônia Braga inspiradíssima, como a moradora de um edifício que se recusa a vender o apartamento a uma construtora. Não só pelas qualidades técnicas e artísticas, mas pelo lado político, “Aquarius” ganhou as manchetes – e foi alvo dos idiotas de sempre.

Em Cannes, a equipe do filme sacou cartazes dizendo que o Brasil estava passando por um golpe parlamentar de estado. O protesto, claro, repercutiu mundo afora, principalmente por cá, pouco depois da votação da Câmara que afastou a presidente eleita Dilma Rousseff do cargo. Era uma resistência tímida em um processo sem volta, no qual saíram vitoriosos apenas alguns pedaços da sociedade – justamente os que detém dinheiro e privilégios: banqueiros, sindicatos patronais (a FIESP gastou milhões em anúncios nos grandes veículos de comunicação pedindo o GOLPE), grande imprensa e movimentos “sociais” (entre aspas, mesmo, já que patrocinados por grandes grupos políticos).

O Floga-se (leia aqui o texto original), junto com outros tantos blogues, sites, coletivos musicais, selos e artistas, participou de um grande abaixo assinado contra o processo. Todos se firmaram no que acreditam ser cada vez mais, ainda hoje, o lado certo a se posicionar.

No dia 13 de março, com o amplo apoio da mídia televisiva (em especial Globo News, Rede Globo e Bandeirantes) e impressa (Folha de São Paulo, O Globo, Estado de São Paulo, Veja, IstoÉ), que explicitamente convocavam as pessoas a participarem, rolou um enorme protesto contra o governo e a favor do processo de GOLPE. É tido como maior do que a mobilização pelas Diretas Já, em 1984. Ajudou muito o apoio de vazamentos específicos da Lava-Jato a revistas como a Veja, dias antes da data marcada pro protesto (a revista até antecipou sua publicação – normalmente aos domingos, naquela semana, saiu na sexta).

Logo depois, um a um, os partidos da base “aliada” de Dilma Rousseff foram pulando fora do governo, principalmente o PMDB, do então vice-Presidente Decorativo GOLPISTA. A senha estava dada.

O grande articulador de O GRANDE GOLPISTA no Congresso, Eduardo Cunha, acabou afastado pelo Supremo Tribunal Federal, dia 5 de maio, por atrapalhar o processo de investigação contra ele na Câmara dos Deputados. Era tarde. Mesmo patrocinado por deputados enrolados em centenas de casos de corrupção, dia 17 de abril, a Câmara aprovou o andamento do processo, por 367 votos favoráveis e 137 contrários. No senado, dia 12 de maio, por 55 votos a 12, a presidente foi inicialmente afastada por seis meses. O GRANDE GOLPISTA assumiu e no dia seguinte começou o desmonte de todo o gabinete e das políticas públicas da presidente eleita. O golpe apontado pelo pessoal de “Aquarius” e por uma parte significativa da sociedade – artistas, movimentos sociais, sindicatos, escritores, políticos – era inevitável, era questão de meses.

Em 23 de maio, são divulgados áudios gravados pelo ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, indicado pelo PMDB, com o senador Romero Jucá, um dos mais fortes articuladores do golpe, dizendo que era preciso “estancar a sangria” da Lava-Jato ou ia todo mundo rodar (a matéria você pode ler e relembrar aqui, com áudio e tudo).

Mesmo com tamanha evidência de que era uma manobra política pra destituir um governo legitimamente eleito, o processo seguiu adiante. Ali nos áudios, estava toda a trama: políticos, imprensa e STF todos no mesmo barco, tramando pra derrubar o governo.

No dia 31 de agosto, depois de quatro meses de processo puramente teatral no Senado, Dilma foi cassada em definitivo. GOLPISTA virava o novo presidente.

Mas as evidências de corrupção eram mais fortes no novo governo do que no que estava destituído. No de Dilma, o problema maior se compõe na arrecadação ilícita – lavagem de dinheiro e caixa 2 – pras campanhas políticas. É sujo, mas a corrupção agora estava no seio do governo, justamente aquele que viria a “salvar” o Brasil. Em seis meses, caíram seis ministros, todos enrolados em casos de corrupção ou abuso de poder: Romero Jucá (23 de maio), Fabiano Silveira (30 de maio), Henrique Eduardo Alves (16 de junho), o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório (9 de agosto), Marcelo Calero (18 de novembro, demissionário por não concordar com as práticas ilícitas do governo) e Geddel Vieira Lima (25 de novembro).

O próprio GOLPISTA acabou enrolado na própria sujeira, após a delação (que promete manter o baixo nível político brasileiro em 2017) de executivos da Odebretch: ele é acusado de pedir e receber milhões de reais diretamente em seu nome. Sem contar José Serra, o chanceler atual, delatado e exposto com 23 milhões de reais na Suíça. Uma sujeira só. Mas nada disso foi suficiente pra levar aquelas pessoas “indignadas” com a corrupção do governo Dilma às ruas novamente.

O Brasil piorou muito com o governo GOLPISTA, que goza dos piores índices de rejeição e avaliação da história: aprovou uma Proposta de Emenda Constitucional (a 241/55), que congela os gastos primários do governo por até vinte anos, o que segundo especialistas, inclusive da ONU, vai tirar bilhões da saúde e da educação, sem mexer um centavo na grana que os rentistas da dívida pública (bancos e instituições financeiras) recebem; além de uma reforma impopular da Previdência (que dá lucro e não prejuízo, como se alega), propondo aposentadoria integral após 49 anos (!!!) de contribuição; além de uma reforma trabalhista que retira direitos e só ajuda os empregadores.

Isso sem contar com o quase desmonte do Ministério da Cultura, que só não foi extinto por conta da pressão popular (veja aqui).

A turbulência continuará em 2017. Essa história não terminou.

Golpe também se viu na Turquia. Ou uma tentativa de.

Dia 15 de julho, militares marcharam e tomaram Ancara e Istambul, as duas principais cidades do país. Tomaram aeroportos e emissoras de rádio e tevê. A Internet e as agências internacionais de jornalismo transmitiam tudo ao vivo. O presidente Recep Tayyip Erdogan pediu apoio da população, que foi às ruas, pro confronto. Logo, o governo reassumiu o controle, mas agora tinha a chance de descer a mão de ferro e suspender garantias constitucionais dos cidadãos: por três meses, o país viveu sob um estado de emergência.

Golpes ou tentativa de golpe não são raridade na Turquia. Mas no país vizinho, a coisa anda pior. Em 2016, a Síria apresentou ao mundo os piores dos piores seres humanos. A guerra civil interminável, que coloca de um lado a ditadora família Assad; do outro, grupos rebeldes; de um outro, as atrocidades do Estado Islâmico; e Rússia e Estados Unidos no meio, medindo forças; apresentou histórias terríveis, como a mulher que se matou pra não ser estuprada por homens do exército de Assad.

Não admira que a crise dos refugiados na Europa só tenha se agravado.

O lado bom é que a gente ainda vê gestos de humanidade e esperança, como o Comitê Olímpico Internacional dando aos refugiados uma bandeira pra disputar as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Foi emocionante ver que o esporte, enfim, cumpriu uma função social de integrar.

Ah, as Olimpíadas no Rio de Janeiro! Sucesso de público, os jogos mexeram com a emoção do brasileiro, em meio à reta final do processo de GOLPE no Senado. Foi um certo alívio, é preciso dizer.

O Brasil conseguiu sua melhor participação olímpica. Foram dezenove medalhas, sendo sete de ouro, e imagens pra ficar pra história de uma cidade que se mostrou linda ao mundo, apesar de todos os problemas (e a gentrificação/higienização promovida pelos governos, e a corrupção pra montar toda a estrutura). A meta do Comitê Olímpico Brasileiro era ficar entre os dez primeiros países no quadro de medalhas, mas o Brasil acabou em décimo terceiro, a duas medalhas de ouro da meta. Saldo final: sete ouros, seis pratas e seis bronzes.

O futebol masculino enfim ganhou sua medalha de ouro, o único título que faltava à modalidade, numa final emocionante, disputada nas penalidades, contra a Alemanha de garotos, que nada tinha a ver com a do 7 a 1.

O grande nome das Olimpíadas, porém, acabou sendo Ryan Lochte, o nadador estadunidense que mentiu sobre ter sido assaltado pra livrar sua cara e de seus amigos por terem chegado de madrugada na Vila Olímpica e completamente bêbados. Quase causou um incidente diplomático entre os dois países, mas no final não deu em nenhuma punição, a não ser o fato do nadador ter perdido contratos de patrocínio. Um escândalo desnecessário, que não chegou a manchar a boa imagem dos Jogos.

Migrando de entidade, vamos à FIFA. Depois do escândalo que engoliu a entidade máxima do futebol mundial, explodido em 2015, a FIFA elegeu novo presidente, o suíço-italiano Gianni Infantino, dia 26 de fevereiro. A promessa é de inchar a Copa do Mundo e de acabar com os contratos fraudulentos. Justamente no ano em que morreu (em 16 de agosto) João Havelange, o presidente mais controverso da FIFA.

Ainda no futebol, em junho tivemos uma emocionante Eurocopa, com um personagem e tanto, que sequer entrou em campo (veja aqui), uma Islândia que encantou o mundo e Portugal campeão pela primeira vez.

A Seleção Brasileira deu mais um vexame, dessa vez na Copa América Centenário, ocorrida nos Esteites, caindo na primeira fase, num grupo em que se classificaram Peru e Equador. O Chile foi campeão mais uma vez e a Argentina de Messi amargou de novo um vice-campeonato.

Assim, Dunga foi demitido do comando da Seleção e Tite, unânime entre os torcedores, assumiu. Resultado: a Seleção, como num passe de mágica, deslanchou, passou a liderar as Eliminatórias pra Copa do Mundo da Rússia, em 2018, e já é novamente vista com respeito pelos adversários europeus.

No Brasil, o Palmeiras voltou a ser campeão brasileiro, depois de vinte e dois anos, um título incontestável, embora sem apresentar o futebol mais vistoso. Acabou o ano também como o clube que mais arrecadou em bilheteria, patrocínios e premiação.

O Grêmio sagrou-se campeão da Copa do Brasil, um título nacional que não conquistava há quinze anos. Do outro lado, o Internacional acabou rebaixado pela primeira vez em sua história pra Série B do Brasileirão.

Mas o futebol em 2016 ficou marcado pelo choro e pela tristeza. Em 28 de novembro, o avião que levava a Chapecoense pra Colômbia, pra disputa do primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana, com o Atlético Nacional, caiu por falta de combustível e matou 71 pessoas. Só seis sobreviveram, sendo três jogadores e um jornalista brasileiro. Morreram dezenove atletas, mais o técnico Caio Junior, comissão técnica e jornalistas, entre eles Mário Sérgio Pontes de Paiva, que trabalhava pra Fox.

A comoção foi internacional. A onda de solidariedade e homenagens também mostrou um pouco de esperança de que o mundo pode se unir. O time colombiano abriu mão do título e oficialmente dia 21 de dezembro a Chapecoense recebeu a taça de campeã da competição. O velório coletivo, debaixo de uma chuva torrencial, além das homenagens em Medellin e no Couto Pereira, em Curitiba, o estádio onde aconteceria a segunda partida da final, foram de cortar o coração.

O futebol também perdeu em 2016 dois grande nomes: Carlos Alberto Torres (25/10) e Johan Cruijff (24/03). E o esporte ainda teve que lamentar a morte do grande Muhammad Ali/Cassius Clay (03/06).

As perdas foram em todas as áreas. Na música, logo no dia 10 de janeiro, dois dias após lançar seu disco “Blackstar”, David Bowie morreu (leia nossa homenagem aqui), aos 69 anos.

Dia 9 de março, o choque foi com a passagem do grande Naná Vasconcelos. Tinha 71 anos. Em 21 de maio, foi a vez de Prince morrer, aos 57 anos. Em 7 de novembro, morreu Leonard Cohen (leia aqui nosso relato). No dia de Natal, chegou a notícia da morte de George Michael, aos 53.

Mas teve muito mais. A lista a seguir dá uma dimensão dos grandes nomes que o mundo perdeu esse ano (em ordem alfabética):

Abbas Kiarostami (04/07), Abe Vigoda (26/01), Alan Rickman (14/01), Alan “Suicide” Vega (16/07), Alcindo (27/08), Andrzej Żuławski (17/02), Antônio Pompêo (05/01), Berto Filho (12/03), Bill Nunn (24/09), Billy Paul (24/04), Bobby Hutcherson (15/08), Bud Spencer (27/06), Caçapava (27/06), Caio Júnior (28/11), Carlos Alberto Torres (25/10), Carrie Fisher (27/12), Cauby Peixoto (15/05), Cesare Maldini (03/04), Curtis Hanson (20/09), Daminhão Experiença (10/12), David Bowie (10/01), Deva Pascovicci (28/11), Domingos Montagner (15/09), Duda Ribeiro (14/09), Eliakim Araújo (17/07), Elke Maravilha (16/08), Ettore Scola (19/01), Ferreira Gullar (04/12), Fidel Castro (25/11), Flávio Guarnieri (07/04), Frank Sinatra Jr. (16/03), Garry Marshall (19/07), Gato Barbieri (02/04), Gaúcho (17/03), Gene Wilder (29/08), Geneton Moraes Neto (22/08), George Kennedy (28/02), George Martin (08/03), George Michael (25/12), Getatchew Mekurya (04/04), Glenn Frey (18/01), Goulart de Andrade (23/08), Greg Lake (07/12), Guilherme Karan (07/07), Guilherme Marques (28/11), Guy Hamilton (20/04), Harper Lee (19/02), Héctor Babenco (13/07), Ivan Cândido (31/05), Ivo Pitanguy (06/08), Jacques Deny (01/01), James Woolley (17/08), Jarbas Passarinho (05/06), Jimmy Bain (24/01), João Havelange (16/08), Johan Cruijff (24/03), John Glenn (08/12), Keith Emerson (10/03), Leonard Cohen (07/11), Lou Pearlman (19/08), Luiz Felipe Lampreia (02/02), Mário Sérgio Pontes de Paiva (28/11), Maurice White (03/02), Mestre Azulão (12/04), Michael Cimino (02/07), Muhammad Ali/Cassius Clay (03/06), Naná Vasconcelos (09/03), Nancy Reagan (06/03), Patty Duke (29/03), Paul Bley (03/01), Paul Kantner (28/01), Paulo Evaristo Arns (14/12), Paulo Julio Clement (28/11), Peninha (19/09), Pete Burns (23/10) Peter Shaffer (06/06), Peter Vaughan (06/12), Phife Dawg (23/03), Prince (21/04), Prince Buster (08/09), Robert Vaughn (11/11), Rogério Duarte (14/04), Sábato Magaldi (14/07), Shaolin (14/01), Sharon Jones (18/11), Shimon Peres (28/09), Teixeira Heizer (03/05), Tereza Rachel (02/04), Time da Chapecoense (Ananias, Arthur Maia, Bruno Rangel, Canela, Cléber Santana, Danilo, Dener, Filipe Machado, Gil, Gimenez, Josimar, Kempes, Lucas Gomes, Marcelo, Mateus Caramelo, Matheus Biteco, Sérgio Manoel, Thiego, Tiaguinho) (28/11), Tunga (06/06), Umberto Eco (19/02), Umberto Magnani (27/04), Vander Lee (05/08), Victorino Chermont (28/11), Villas-Bôas Corrêa (15/12), Vilmos Zsigmond (01/01), Waleska (14/10), Zsa Zsa Gábor (18/12).

De todos os nomes aí listados, o mais importante pra história do século XX, sem dúvidas, é Fidel Castro. O ex-presidente e revolucionário cubano faleceu em 25 de novembro, aos 90 anos, sem ver onde vai dar a flexibilização do embargo dos Estados Unidos, iniciado por Barack Obama.

Ou se é que vai de fato continuar essa flexibilização, já que os Estados Unidos deram uma volta radical politicamente, elegendo um bufão xenófobo pra presidência. Donald Trump, o milionário, perdeu no número de votos pra Hillary Clinton, mas levou no colégio eleitoral e se tornou o 45º presidente do país. Foi uma eleição polêmica, com acusações sujas e até uma suposta ajuda da Rússia de Vladimir Putin.

O mundo está dando uma guinada à direita reacionária e xenófoba, ao que parece. Na França, a direita é franca favorita nas próximas eleições. Na Inglaterra, o triunfo do Brexit, jogou uma incerteza enorme no futuro da União Europeia. Os eleitores foram às urnas em 23 de junho, vencendo a “saída” por 51,8%. O que deu a vitória ao Brexit? Provavelmente o mesmo desejo patriótico estapafúrdico e discriminatório que deu a vitória a Trump: todos querem construir muros pra separar o resto do mundo.

A conservadora Theresa May acaba assumindo o cargo de Primeira Ministra, após renúncia de David Cameron, que era contrário ao Brexit.

Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, recebe o Nobel da Paz, por promover um acordo com as FARC. Num plebiscito histórico, entretanto, em 2 de outubro, 50,2% dos eleitores rejeitaram tal acordo.

No Floga-se, porém, não há muros que nos separem do mundo. A música segue fazendo a diferença nos mais variados países. Enquanto a maioria dos blogues e sites que tratam da (cof cof cof) “música alternativa” se baseiam em orientações de releases profissionais de produtoras e assessorias, e a uniformidade de assuntos e nomes se consolida, o Floga-se vai pesquisar.

Contou a história da “mártir dos downloads” ilegais e sua briga a Justiça. Questionou se os serviços de streaming vão matar a arte da composição musical. Contou a história da máquina de infinitas cópias de uma música e como isso desmonta o argumento da indústria musical sobre pagamento de direitos. Contou sobre a música que permeia Hitchcock e a briga entre o YouTube e a indústria.

Foi também ao Monte Evereste contar sobre o primeiro show de rock que rolou por lá. Viajou até a Estônia, pra falar como uma banda punk impulsionou a independência do país. Foi ao Azerbaijão soviético lembrar da história do dono da loja oficial de discos de lá. Sim, “loja oficial de discos”. E vai continuar em 2017 chafurdando o mundo atrás de histórias curiosas que tenham a música como protagonista na mudanças dos cursos da história.

No mundo do YouTube, o vídeo mais visto do ano foi o de Adele cantando no carro com o apresentador britânico James Corden, com quase 150 milhões de visualizações:

Em segundo lugar, com pouco mais de 100 milhões, está essa bizarrice japonesa (sem contar as centenas de remixes e afins – quem avisa amigo é: se você nunca ouviu, evite, porque é pegajoso):

Nas rádios brasileiras, só deu sertanejo. Não teve nem pro rock (ou “música de guitarras”), nem pro funk, nem pro axé: só sertanejo. Foi definitivamente o ano de Marília Mendonça (a “Adele do sertanejo”, como alguém tratou de alcunhar), que de compositora passou a intérprete e a sucesso de vendas, execuções e shows. “Infiel” e seu sucesso na sequência, “Eu Sei De Cor”, estão entre as mais executadas:

A lista das dez mais executadas no país (até a primeira semana de dezembro) é essa:

01. Zé Neto e Cristiano – “Seu Polícia” (69.028 execuções)
02. Marília Mendonça – “Infiel” (65.520 execuções)
03. Marcos & Belutti – “Romântico Anônimo” (64.679 execuções)
04. Eduardo Costa – “Pronto Falei” (64.077 execuções)
05. Victor & Leo – “Vai me Perdoando” (62.143 execuções)
06. Maiara a Maraisa – “Medo Bobo” (60.499 execuções)
07. Jorge & Mateus – “Sosseguei” (55.651 execuções)
08. Henrique & Diego – “Esqueci Você” (55.090 execuções)
09. Gusttavo Lima – “Que Pena Que Acabou” (54.408 execuções)
10. Henrique & Juliano – “Como é Que a Gente Fica” (52.156 execuções)

Pelo mundo, o bizarro aconteceu: Mozart, com uma caixa com 225 CDs (!!!) da obra completa do compositor, acabou como o “álbum mais vendido do mundo”. Mas por causa de uma conta distorcida: pra Billboard, que fez a lista, cada CD da caixa contabiliza como uma venda, de modo que cada caixa vendida eram 225 discos vendidos. Assim, Mozart bateu Adele, Beyoncé etc.

As canções que mais lideraram as paradas de sucesso gringa, de acordo com a Nielsen SoundScan, foram:
“Hello” – Adele (10 semanas no total; 7 semanas em 2015 e 3 semanas em 2016)
“Sorry” – Justin Bieber (3 semanas)
“Love Yourself” – Justin Bieber (2 semanas não consecutivas)
“Pillowtalk” – Zayn (1 semana)
“Work” – Rihanna com Drake (9 semanas)
“Panda” – Desiigner (2 semanas)
“One Dance” – Drake com Wizkid e Kyla (10 semanas no total; 9 semanas consecutivas)
“Can’t Stop The Feeling!” – Justin Timberlake (1 semana)
“Cheap Thrills” – Sia com Sean Paul (4 semanas)
“Black Beatles” – Rae Sremmurd com Gucci Manne (6 semanas)

A música que mais liderou foi “Closer”, com The Chainsmokers e Halsey, por 12 semanas:

Misturando gringos e brasileiros, a Associação Brasileira dos Produtores de Disco (ABPD) dá uma amostra de como ficaria a lista de mais vendidos (CDs). “Joanne”, da Lady Gaga, está na sétima semana (de 17/10 a 04/12) no topo dos mais vendidos no Brasil.

No começo de dezembro, a lista estava assim (o consolidado do ano sai só em janeiro):
01. Lady Gaga – “Joanne”
02. Marília Mendonça – “Ao Vivo”
03. Metallica – “Hardwired To Self Destruct”
04. Maiara & Maraisa – “Ao Vivo Em Goiânia”
05. Ludmilla – “A Danada Sou Eu”
06. Wesley Safadão – “WS em Casa”
07. Simone & Simaria – “Simone & Simaria Live”
08. Leonardo e Eduardo Costa – “Cabaré 2 – Night Club”
09. Fifth Harmony – “7/27”
10. Vários – “Sambas de Enredo 2017”

De acordo com o Spotify, os cinco artistas mais ouvidos em 2016, na ordem, foram Drake, Justin Bieber, Rihanna, Twenty One Pilots e Kanye West. Se contar só Brasil, eles são, também do primeiro pro quinto colocado: Jorge & Mateus, Henrique & Juliano, Matheus & Kauan, Justin Bieber e Wesley Safadão. Top 5 álbuns executados por brasileiros: “Como. Sempre Feito. Nunca (Ao Vivo)”, Jorge & Mateus; “Purpose”, Justin Bieber; “Show Completo | Ao Vivo em Goiânia”, Maiara & Maraisa; “Marília Mendonça”, Marília Mendonça; e “Na Praia”, Matheus & Kauan. Contando o mundo inteiro: “Views”, Drake; “Purpose”, Justin Bieber; “ANTI”,­ Rihanna; “Blurryface”,­ Twenty One Pilots; e “Beauty Behind The Madness”, The Weeknd.

Um ponto preocupante de 2016, foi a decadência financeira da Orquestra Sinfônica Brasileira. A OSB passou por maus bocados. Como bem conta o caderno de cultura de O Globo, “em outubro, a OSB apresentou seu tradicional concerto anual com trilhas sonoras de filmes, mas teve que recorrer a um expediente inesperado para realizá-lo: em vez da música de compositores vivos como John Williams e Howard Shore, foram tocadas obras de domínio público de nomes mortos há tempos, como Mozart, Haydn e Beethoven, também aproveitadas no cinema. Com isso, evitou-se o pagamento de direitos autorais, uma economia que pode parecer pequena, mas que era necessária (…). O primeiro sinal da assustadora crise que iria se abater sobre a OSB surgiu em junho, quando a fundação que administra a orquestra anunciou o cancelamento de 11 apresentações e o adiamento de outras quatro devido à ‘redução das verbas de patrocínio causada pelas dificuldades no cenário nacional’. (…) No fim de julho, com salários atrasados e plano de saúde suspenso, os músicos se reuniram pra discutir uma greve, que irrompeu logo depois. Em setembro, o presidente da Fundação OSB, Eleazar de Carvalho Filho, revelou a extensão do problema: um rombo de R$ 15,5 milhões e uma captação de recursos vagarosa, muito aquém do esperado. Por conta disso, foi cancelado o restante da temporada deste ano, num total de 12 concertos das séries de assinatura. Eleazar disse que a orquestra já começara o ano com uma dívida de R$ 5 milhões e havia orçado a temporada de 2016 em R$ 26 milhões. No entanto, só havia conseguido captar R$ 15,5 milhões”.

Os músicos, abnegados, não desistiram, mesmo com salários incertos. A OSB vai entrar 2017 precisando de ajuda, muita ajuda. Como diz no site, a “Orquestra Sinfônica Brasileira precisa de sua ajuda para continuar existindo”.

Do jeito turbulento e tumultuado que 2016 se apresentou no mundo político, social e cultural, é de se imaginar que todos precisemos de alguma ajuda. Uma esperança em algo melhor, que seja. Clama-se por uma entrada mínima nos eixos, mas a quase certeza é de que 2017, pelo menos no campo político, geopolítico e social, as coisas não vão melhorar muito, não. O que o Floga-se deseja é que no âmbito pessoal, ao menos, você tenha todo o sucesso e felicidade do mundo.

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