RESENHA: O ANO DE 2015

Acho que já virou clichê: 2014 é o ano que não acabou. Ele invadiu 2015 e periga ainda se embrenhar por 2016. O ano que se encerra agora sofreu com a infecção gerada em 2014, após as eleições presidenciais, cujo terceiro turno insiste em não findar.

A parte política perdedora do pleito não aceitou a derrota e esticou a disputa 2015 adentro. O país, que vinha esboçando mais uma crise econômica (você lembra alguma época, após a redemocratização, que não aconteceu uma crise econômica?), abraçou a ideia do “quanto-pior-melhor” estabelecida pelos derrotados e o quadro se agravou. Em 2015, não se fez oposição, se praticou o exercício inequívoco de minar o poder estabelecido. E, assim, a agenda política brasileira virou um novelão digno de reviravoltas e capítulos emocionantes.

Mas a emoção não se deu só aqui no Brasil. Janeiro brindou o mundo com mais episódios de terror. Na França, alguns malucos religiosos invadiram um jornal famoso por fazer sátiras de personagens religiosos, o Charlie Hebdo, e saíram atirando. O planeta deu uma pausa: era, com uma só metralhada, um atentado contra o “modo ocidental de viver” e a liberdade de expressão. Os telejornais transmitiram cenas chocantes de perseguições e tiroteios em ruas de Paris. Nas semanas que se seguiram, todos levantaram a bandeira “je suis Charlie Hebdo”.

Não deu duas semanas no calendário e, ainda em janeiro, o mundo finalmente e formalmente foi apresentado ao Estado Islâmico, com a decapitação de um refém japonês. Nos próximos doze meses, o Estado Islâmico iria dar muitas outras amostras de sua violência. Três dias após a decapitação, os terroristas do ISIS atacaram um hotel de luxo na Líbia. Oito pessoas morreram. Dois dias depois, o Egito é atacado. Começa fevereiro e o grupo mostra mais uma execução atroz: o piloto jordaniano Muath al-Kasaesbeh foi queimado vivo numa jaula. O vídeo correu o mundo.

Muito mais viria no decorrer do ano, como se sabe. Em 12 de novembro, em Beirute, no Líbano, quarenta e três pessoas morreram em ataques do EI. No dia seguinte, mais numa vez Paris. Num ataque coordenado, em várias regiões da cidade – o Stade de France, os restaurantes La Belle Équipe, Casa Nostra, Le Petit Cambodge e Le Carillon, e Teatro Bataclan, onde acontecia o show do Eagles Of Death Metal – os terroristas mataram mais 130 pessoas. Pânico. Terror.

A Rússia era a única que atacava o Estado Islâmico até ali, com frequência e coordenação. A França logo aderiu. Os Estados Unidos planejam ataques por terra. A Turquia, no meio, derrubou aviões da Rússia. Uma guerra se avizinha em 2016.

No Brasil, o Carnaval passou como sempre, sem sobressaltos (Beija-Flora campeã no Rio; Vai-Vai, em São Paulo). A chuva caiu e deu um alento aos reservatórios do Sudeste. Não foi o suficiente nem pro volume morto. Pelo menos, a partir de agosto, a chuva veio forte e caiu água como não caía há vinte anos. Geraldo Alckmin não pode mais culpar São Pedro.

Nem Dilma pode culpar a sorte. Em 15 de março, uma multidão considerável tomou as ruas das principais capitais do Brasil. Ainda não pediam seu impedimento, mas bradavam contra a corrupção que a operação Lava-Jato descobria com cada vez mais vigor e ramificações. Outros protestos se seguiram no ano, embora menores. Isso porque, de uma vez por toda, a crise política se agravou, graças a um personagem polêmico que data da Era Collor: Eduardo Cunha.

Se há uma foto que simboliza 2015, talvez seja essa. Difícil de acreditar. Ou talvez essa outra aqui, com uns deputados da oposição e aloprados a tiracolo posando de paladinos da Justiça e da luta contra a corrupção. Mostra que a briga pelo poder é justamente a briga pra quem vai deter os meios de investigação – seja pra investigar, seja pra esconder. É uma briga por poder, não por Justiça.

Uma boa parte das pessoas percebeu isso, a cada novo escândalo envolvendo Eduardo Cunha, que começou com o ministério público da Suíça bloqueando contas dele – contas que ele afirmava não existir, e que não declarou. Começou uma corrida pra que o presidente da Câmara conseguisse manter seu cargo.

Enquanto no Brasil se agravava uma estranha e atrasada dicotomia esquerda-versus-direita, direita-versus-esquerda, Raúl Castro e Barack Obama, em abril, se reúnem na Cúpula das Américas, no Panamá, em busca de acabar de vez com o embargo estadunidense à ilha. O “vai pra Cuba” deveria perder todo o sentido. Mas não perdeu. A direita brasileira não é muito afeita aos rumos da história e, com a abertura da ciclovia na Avenida Paulista, em São Paulo, os usuários foram “xingados de comunistas” só por apoiar a ideia e usar o meio de transporte.

E Fernando Haddad, prefeito da capital paulista, do PT (claro), sofreu por ser do partido e o ranço que vem no pacote. Dois embates na linha de frente esse ano: o fechamento da Avenida Paulista aos carros, abrindo-a ao lazer aos domingos; e a redução da velocidade média dos carros na cidade, pra cinquenta quilômetros por hora. Se essa última medida teve rapidamente comprovada sua eficiência, com a queda dos índices de acidentes e a diminuição dos engarrafamentos, a primeira ainda gerou muita polêmica, sendo resolvida, e aprovada pela população na marra, peitando os indignados.

O nível de discussão polarizada chegou a esse nível, mas iria piorar.

Se Haddad estremecia as seculares verdades da velha elite paulistana, mal acostumada à discordância, do outro lado do mundo, em abril, o mundo chacoalhava terrivelmente com um terremoto no Nepal, seguido de tantos outros menores. Foi um sismo de 7.8 na escala Richter (que em teoria vai até 9). Milhares morreram, o mundo se comoveu. Em outubro, ainda em recuperação, o Nepal elegeu pela primeira vez uma mulher pra presidência, Bidhya Devi Bhandari.

Outra tragédia foi a queda do Airbus A320 da Germanwings, matando cento e cinquenta pessoas nos Alpes Franceses. O que difere essa queda de avião das muitas outras que ocorreram em 2014, por exemplo, é que foi um suicídio cometido pelo copiloto Andreas Lubitz, de acordo com a investigação.

Em 2 de abril, outra tragédia. Um helicóptero caiu em Carapicuíba, Grande São Paulo, matando cinco pessoas, incluindo o filho do governador Geraldo Alckmin. O acidente acalentou ainda mais a discussão esquerda-direita: qual morte merecia mais as manchetes, a do filho do governador ou das vítimas da guerra urbana no Brasil?

Se foi um bom ano pro Brasil nos esportes, ficando com a terceira posição no quadro de medalhas do Pan de Toronto, realizado em julho (só atrás dos Estados Unidos e do Canadá), não foi um bom ano pro futebol. A Seleção da CBF perdeu mais uma Copa América, vencida pela primeira vez pelo Chile, que jogava em casa. O time de Dunga foi eliminado pelo Paraguai, nos pênaltis, nas quartas-de-final.

Na Copa do Mundo de Futebol Feminino, disputado no Canadá, o Brasil cai nas oitavas-de-final, 1 a 0 pra Austrália. Os Estados Unidos foram campeões mais uma vez.

Na verdade, não foi um bom ano pro futebol em geral.

Um mês antes, estoura na Suíça o maior escândalo que a FIFA e outras federações se viram envolvidas em toda a história. Durante o encontro que ia sacramentar nova reeleição de Joseph Blatter à presidência da FIFA, uma operação do FBI prende vários dirigentes da entidade, incluindo o brasileiro José Maria Marin, ex-presidente da CBF. O atual presidente, Marco Polo Del Nero, se escafedeu da Suíça, sorrateiramente, voltou ao Brasil e nunca mais pisou num aeroporto. O maior representante do futebol nacional simplesmente não viaja pra fora do país, com medo de ser preso.

Uma semana depois das ações do FBI, Blatter renuncia e convoca novas eleições na FIFA (que acontecem em fevereiro de 2016). Os escândalos só crescem e atingem até Michel Platini, o astro francês que desejava ser presidente da entidade.

Pelo menos, dentro de campo, a coisa vai bem. O Barcelona monta mais um supertime e ganha tudo, Liga dos Campeões (pela quinta vez na história) e o tri do Mundial de Clubes da FIFA, sobre um River Plate renascido.

No Brasil, o Corinthians passeou e venceu seu sexto título nacional de forma irretocável, sambando na cara dos demais. Merecidíssimo. E foi um ano paulista, como 2014 havia sido mineiro. Na Copa do Brasil, um reestruturado Palmeiras levantou a taça nos pênaltis diante do rival Santos, numa final emocionante, a primeira na sua nova casa, a exuberante Allianz Arena.

Já o futebol carioca… O Botafogo comemorou o título da Série B, retornando à elite. Mas o Vasco caiu de novo. Terceira queda, após muita luta. Quase se safou. Começou o returno com treze pontos de desvantagem e terminou o campeonato a um ponto de se salvar. Fluminense e Flamengo foram coadjuvantes esquecíveis.

Esse foi o ano também em que o mundo viu atentamente uma outra luta, a da Grécia pra escapar das garras do pior que o capitalismo pode oferecer. Em janeiro, a esquerda vence as eleições, com Aléxis Tsípras do SYRIZA tendo pela frente a dura batalha contra a dívida externa com o FMI e os parceiros da zona do euro. Seguiram com os pacotes de austeridade que massacraram os ganhos do povo. A pressão da Alemanha e aliados por mais austeridade pra sobrar grana pra pagar a dívida, fez a Grécia realizar um plebiscito, em julho, pro povo decidir se o governo aceita ou não as condições alemãs e se aceita ou não pagar a dívida. Tsípras ganhou nas urnas, e a receita alemã de mais arrocho não vingou.

Mesmo assim, em agosto, Tsípras, vendo que a situação era insustentável, renunciou, marcando novas eleições pra setembro. No novo pleito, Tsípras foi novamente alçado ao posto de primeiro-ministro. A Grécia segue sem pagar a dívida e sem saber o que fazer com ela.

A “versão SYRIZA” espanhola, o Podemos, em dezembro, teve um ganho extraordinário nas eleições legislativas do país, conseguindo 69 cadeiras no parlamento. Não é maioria, mas é representativo. A esquerda mais viril marca sua força na Europa e conquista terreno.

Terreno que a NASA também conquistou espaço adentro, chegando a Plutão, o ex-planeta que nos brindou com belíssimas imagens. E descobrindo água em Marte (setembro).

Na Terra, dia 5 de novembro, a água se misturou à lama, no maior crime ambiental da história do país. Na cidade de Mariana, Minas Gerais, uma barragem da mineradora Samarco (BHP e Vale) estourou e toneladas e toneladas de lama tóxica desceram o morro, dizimando o distrito de Bento Rodrigues, matando pessoas e o Rio Doce (que deu o nome à Vale). Pelos seiscentos quilômetros do rompimento até a foz do rio, no Espírito Santo, a lama foi matando tudo: rio, flora, fauna, pessoas. As imagens da lama chegando ao mar são impressionantes. Ninguém foi preso, ninguém foi punido. Ninguém sabe ainda quanto tempo levará pra natureza se recuperar – ou se vai se recuperar.

Os governos estadual e federal se mostraram ineficientes no gerenciamento dessa crise. E mais uma vez os embate de esquerda e direita afloraram.

Um embate secular também se viu nos Estados Unidos. A polícia branca seguiu matando negros a torto e a direito. O caso mais famoso foi o de Walter Scott. Os protestos se seguiram pelo país contra a violência policial contra negros.

E se há algo bom nisso é que daí surgiu um dos grandes discos do ano, “To Pimp A Butterfly”, de Kendrick Lamar (vale ler essa resenha sobre a obra). O disco foi arrebatador em todas as listas de melhores do ano.

Mas quem vendeu mesmo foi Adele. Seu disco “25” bateu recordes, recordes e recordes. Sem entrar na roda dos serviços de streaming (ainda). Até 21 de dezembro, o disco havia vendido quase 6 milhões de cópias.

Na semana que encerra-se no Natal, os três discos mais vendidos no mundo eram: “25”, Adele; “A Head Full Of Dreams”, Coldplay; e “Purpose”, Justin Bieber.

No Brasil, a ajuda dos céus fez com que o disco “Quando Deus Quer Ninguém Segura”, do Padre Alessandro Campos, com 350 mil cópias; e “Mega Hits”, do Padre Marcelo Rossi, com 200 mil cópias, fossem os mais vendidos. O “25” de Adele ficou em quarto lugar no país, com 170 mil cópias, logo atrás de “Acústico”, de Luan Santana.

Na lista brasileira, o rock aparece apenas com o “Songs of Innocence”, do U2 (de 2014), na 18ª colocação, 60 mil cópias. Rock nacional aparece só na 24ª colocação, com um disco de 2014 também, o “Supernova”, da banda Malta, se é que você pode chamar isso de rock. Nem com ajuda divina, as guitarras fazem alguém mexer no bolso.

Na lista dos vídeos mais vistos no YouTube, aparece em segundo lugar “Escreve Aí”, de Luan Santana. São quase 95 milhões de visualizações.

O primeiro colocado ficou com o megasucesso “Aquele 1%”, da união Marcos & Belutti e Wesley Safadão. São 100 milhões de visualizações:

O vídeo oficial de “Camarote”, de Wesley Safadão, também aparece na lista dos dez mais vistos no YouTube. São 55 milhões.

Mas o grande assunto musical do ano no Brasil foi sem dúvida a separação de Chimbinha e Joelma, da banda Calypso, a gente gostando ou não. Ou, por outra, é fofoca, não é música.

Ou o assunto foi, de novo, streaming. A coluna Pense Ou Dance abordou o tema algumas vezes. Falou sobre uma divisão mais justa dos direitos autorais. Falou sobre a forma como as pessoas ouvem música hoje em dia. Analisou o Bandcamp, como a grande plataforma. E, claro, Adele no meio disso tudo.

Mas o Floga-se em 2015 mergulhou de vez na análise crítica e nas matérias especiais. Mais resenhas, mais pensamento, mas histórias. Foi nesse ano que o site vasculhou histórias de obras que mudaram a vida de muita gente. História curiosas, interessantes, impressionantes. Tem o disco que mudou a história da Groenlândia. Teve o nascimento do jazz etíope e como isso está ligado diretamente ao movimento rastafári. Contamos a história sobre como o punk teria nascido no Peru. Revisitamos uma obra marcante nos 70 anos das bombas atômicas sobre o Japão. Lembramos como cientistas descobriram a primeira gravação sonora da história. E passeamos pelos “fantasmas do MP3”.

Falamos sobre a revolução que o Starbucks prometeu pra música, mas nunca existiu. Um filme pornô feito num festival de música, acredita? Revelamos a música secreta no quadro “A Última Ceia”, de Da Vinci; e o que acontece quando uma banda gringa recebe o convite pra tocar de graça.

Mostramos também a “fábrica de sucessos pop” comandada por um sueco; o paciente zero da pirataria musical; e como o Shazam virou uma empresa de um bilhão de dólares sem nunca ter dado um centavo de lucro.

Contamos a história da música que mudou a história do Timor Leste; e a voz que mudou a revolução na Síria, pré-Estado Islâmico. Revelamos as fitas cassete que vêm do frio da Sibéria, contando a história daquela gente.

Foi um ano cheio de histórias e em 2016 pretendemos continuar vasculhando o mundo atrás de outras tão curiosas quanto.

Em 2015, também estreamos uma coluna deliciosa, embora bissexta, a CosmoPOPlitan, de Cesar Zanin. E inauguramos uma série de entrevistas que pode ser bem interessante, a “Attöm Dë Na Fita”, revelando curiosidades de gravações de músicos alternativos brasileiros. Surgiu também, uma série bacana contando a história de grandes selos musicais a partir de playlistsé a Sobre Selos.

Não cobrimos os festivais que queríamos – e em 2015, aconteceram o Lollapalooza (veja aqui), o Cultura Inglesa, com Johnny Marr (veja aqui), o Popload Festival e o Rock In Rio.

E, como todos, ficamos tristes com as mortes de Ornette Coleman (o jazz e a música livres) e principalmente de B.B. King (leia aqui “o dia que conheci B.B. King”).

Foi mais um ano de muitas perdas: Dodô da Portela, Chico de Assis, Chico de Assis, Charb, Rod Taylor, Francesco Rosi, Anita Ekberg, Lincoln Olivetti, Maria Della Costa, Udo Lattek, Odete Lara, Tomie Ohtake, Renato Rocha (leia aqui), Leonard Nimoy, José Rico, Inezita Barroso, Armênio Guedes, Terry Pratchett, Cláudio Marzo, Jorge “Zé Bonitinho” Loredo, Gene Sacks, Manoel de Oliveira, Percy Weiss, Roberto Talma, Mangabinha (Trio Parada Dura), Jayne Meadows, Antônio Abujamra, Ben E. King, Elias Gleizer, Mary Ellen Trainor, Zé do Rádio, Christopher Lee, Zito, Fernando Brant, Olacyr de Moraes, Carlinhos (técnico de futebol), James Horner, Cristiano Araújo (leia aqui), Chris Squire (Yes), Amanda Peterson, Omar Sharif, Luiz Paulo Conde, Yvonne Craig, Orlando Orfei, Içami Tiba, Oliver Sacks, Wes Craven, John Nash, Luizito da Mangueira, Moses Malone, Betty Lago, Gaúcho da Copa, Carlos Manga, Phil Woods, Steve Mackay (Stooges), Miele, Maureen O’Hara, Yoná Magalhães, Sergio Pamps Pamplona, Sandra Moreyra, Juvenal Juvêncio, Marília Pêra, Scott Weiland, Robert Loggia, Jupiter Maçã – e no apagar das luzes do ano, Lemmy Kilmister, do Motorhead.

A pior morte, como gostam de brincar, é a do bom senso.

A maior indignação dos que foram às ruas contra o governo federal (e só contra o governo federal) foi pela alegação de que a corrupção tira dinheiro de áreas como a saúde e a educação.

Pois 2015, a saúde e a educação penaram. Um surto impressionante de microcefalia surgiu no final do ano, primeiro no Nordeste, depois no Sudeste. A causa, o Aedes aegypti, o transmissor da dengue e de um tal de zika vírus, que causa a má formação dos bebês. Foram quase três mil casos pelo país.

No Rio de Janeiro, em dezembro, os cariocas viram a saúde pública literalmente ir à falência.

Na educação, os holofotes ficaram com os governadores Beto Richa e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB, o preferido dos indignados e antipetistas. Richa sentou o cacete, tiro, porrada e bomba nos professores estaduais que protestaram no Paraná. Um clima de selvageria por parte do Estado que foi repreendido até mesmo pelos companheiros de partido.

Em São Paulo, Alckmin resolveu fazer uma tal de “reorganização” no sistema de ensino. O plano incluía fechar escolas. Os alunos se revoltaram e começaram uma onda de ocupações como nunca vista antes. Sem uma organização central, um “comando de greve”, conseguiram se unir, tomar escolas e ruas, chamar atenção da mídia, e parar o andamento do projeto. Mas antes, como de praxe nesses governos que não sabem dialogar e ainda vivem sob a doutrina militar, Alckmin mandou descer o porrete na criançada, com o intuito de “liberar as ruas ao tráfego”.

Em outras palavras, pro governo paulista, lutar pelo trânsito é mais importante do que lutar pelas escolas.

As crianças conseguiram até que os artistas brasileiros se mobilizassem juntos, realizando uma espécie de virada cultural nas escolas ocupadas. Este artigo do Farofafá resume bem o sentimento. Foi o maior ganho democrático que o país teve esse ano. Quando crianças e adolescentes tomam pra si o protagonismo político, é porque algo de muito bom pode nos esperar num futuro próximo.

Mas os adultos…

Na luta pelo “quanto pior, melhor”, o país foi na marcha lenta da economia. O dólar disparou a quatro reais, porque “os mercados” – ah, sabe como são “os mercados”, esse ente que manda em tudo – ficaram inquietos. O desemprego foi a 8% (era 4,5% na eleição), e muita gente ficou na rua da amargura. A inflação bateu nos dois dígitos, coisa que não acontecia há uma década.

A instabilidade econômica teve muito a ver com a instabilidade política. Eduardo Cunha, o criminoso com mandato parlamentar, manteve-se no centro das atenções chantageando ora a oposição, ora o governo. Ambos precisavam dele. A oposição querendo que Cunha abra um processo de impedimento, baseado em um suposto crime de responsabilidade. O governo tentando se segurar, distribuindo cargos. A política mais mesquinha possível se praticou em 2015.

Mas os meses finais do ano foram imbatíveis em emoção. O impeachment finalmente saiu dos braços de Eduardo Cunha e começou a ser analisado. Os aliados do governo foram ao STF e conseguiram uma vitória na definição do rito. A oposição agora promete derrubar o governo via Tribunal Superior Eleitoral. A Procuradoria Geral da União enviou provas robustas contra Cunha ao STF, pedindo sua cassação e destituição do cargo de presidente da Câmara. Políticos do PT, PMDB, DEM e outros partidos seguem na mira da Lava-Jato e da PGR.

Todas as definições ficaram pra 2016, que ainda vai ser, pelo visto, uma extensão do 2014 que não terminou. Talvez ainda pior, pois imprevisível. As forças anti-golpe se acumulam fortes. É o que espera-se: 2014 precisa acabar, porque a vida normal precisa recomeçar. Tivemos emoções demais em 2015.

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